sábado, 17 de agosto de 2013

O Cântico do Magnificat

O cântico de Nossa Senhora, o Magnificat, é um poema de extraordinária beleza poética e elevação religiosa. Dificilmente poderiam ficar melhor expressos os sentimentos do coração da Virgem Maria – «a mais humilde e a mais sublime das criaturas» (DANTE, Paraíso, 33, 2) –, em resposta à saudação mais elogiosa (vv. 42-45) que jamais se viu em toda a Escritura.
É como se Maria dissesse que não havia motivo para uma tal felicitação; tudo se deve à benevolência, à misericórdia e à omnipotência de Deus. Sem qualquer referência ao Messias, refulge aqui a alegria messiânica da sua Mãe e a sua humildade num extraordinário hino de louvor e de agradecimento. 
O cântico está todo entretecido de reminiscências bíblicas, sobretudo do cântico de Ana (1 Sam 2, 1-10) e dos Salmos (35,9; 31, 8; 111, 9; 103, 17; 118, 15; 89, 11; 107, 9; 98, 3); cf. também Hab 3, 18; Gn 29, 32; 30, 13; Ez 21, 31; Si 10, 14; Mi 7, 20. Ao longo dos tempos, muitos e belos comentários se fizeram ao Magnificat; mas também é conhecida a abordagem libertacionista, abundando leituras materialistas utópicas, falsificadoras do genuíno sentido bíblico, com base no princípio marxista da luta de classes. Com efeito, a transformação social que é urgente realizar, não se consegue com o inverter a ordem social, o «derrubar os poderosos dos seus tronos» e o «despedir os ricos de mãos vazias». 
Eis o comentário da Encíclica Redemptoris Mater, nº 36: «Nestas sublimes palavras… vislumbra-se a experiência pessoal de Maria, o êxtase do seu coração; nelas resplandece um raio do mistério de Deus, a glória da sua santidade inefável, o amor eterno que, como um dom irrevogável, entra na história do homem».

sábado, 27 de julho de 2013

Por que rezar?

Afinal, por que rezar? Para nos abrir para Deus, para nos fazer tomar consciência dele com todo o nosso ser, para que percebamos com cada fibra do nosso ser, do nosso consciente e do nosso inconsciente que não nos bastamos a nós mesmos, mas somos seres chamados a viver a vida em comunhão com o Infinito, em relação com o Senhor. 
Sem a oração, perderíamos nossa referência viva a Deus, cairíamos na ilusão que somos o centro da nossa vida e reduziríamos o Senhor Deus a uma simples idéia abstrata, distante e sem força. Todo aquele que não reza, seja leigo, seja religioso, seja padre, perde Deus, perde a relação viva com ele. Pode até falar dele, mas fala como quem fala de uma idéia, de uma teoria e não de alguém vivo e próximo, que enche a vida de alegria, ternura, paz e amor. 
Sem a oração, Deus morre em nós. Sem a oração é impossível uma experiência verdadeira e profunda de Deus e, portanto, é impossível ser cristão. Por tudo isso, a oração tem que ser diária, perseverante e fiel.
Quanto aos modos de rezar, são variados. A melhor forma é com a Sagrada Escritura: tomando a Palavra de Deus, lendo-a com os lábios, meditando-a com o coração e procurando vivê-la na existência. Tome diariamente a Bíblia, leia-a com fé, repita as palavras ou frases que tocaram seu coração e derrame sua alma diante do Senhor. Nunca esqueçamos que essa Palavra de Deus é viva e eficaz, transformando a nossa vida e dando-lhe um novo sentido. 
Também é importante a oração espontânea, com nossas palavras e a oração vocal, aquela decorada, como o Pai-nosso e a Ave-Maria. Aqui, é bom recordar o terço, que tanto bem tem feito ao longo dos séculos. 
Mas, a oração por excelência é a própria missa. Aí, de modo pleno, nós somos unidos à própria oração de Cristo, participando do seu sacrifico pela salvação nossa e do mundo inteiro.
Mas, recordemos que a oração não é uma negociata com Deus nem é para dobrar Deus aos nossos caprichos. É, antes, para nos tornar disponíveis à vontade do Senhor a nosso respeito. 
Por Dom Henrique Soares, site Presbiteros.org

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nota da CNBB sobre as manifestações populares

"Ouvir o clamor que vem das ruas"
Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.
Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”
Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.
O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito.
Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!
Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo.
Brasília, 21 de junho de 2013
Fonte: A12.com

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Rito da Ordenação Presbiteral

O sacramento da Ordem é constituído por três graus: episcopal, presbiteral e diaconal. Cada qual possui um rito de ordenação próprio, porém o comum entre eles é a imposição das mãos e a prece de ordenação.
O segundo grau do ministério da Ordem é o presbiteral, denominado também por sacerdotal. Segundo o Pontifical Romano, a ordenação presbiteral é constituída por seis partes: eleição do candidato; homilia; propósito do eleito; ladainha; imposição das mãos e prece de ordenação; unção das mãos e entrega da patena e do cálice.
Como as demais ordenações, a sacerdotal é realizada dentro da Eucaristia. Logo após a Liturgia da Palavra, dá-se início ao Rito de Ordenação Presbiteral.
Eleição do Candidato
O diácono chama o ordenando, com as seguintes palavras: “Queira aproximar-se o que vai ser ordenado presbítero”. E, em pé, o candidato coloca-se diante do bispo, como sinal de prontidão, dizendo: “Presente”. Em seguida, um presbítero, designado para tal, pede ao bispo para que ordene este irmão para a função de presbítero. O bispo, então, interroga se o candidato é digno deste ministério. O presbítero responde, que após ter averiguado junto ao povo de Deus e ouvido os responsáveis, com convicção declara ser testemunha de que este candidato foi considerado digno. Tendo esta resposta, o ordenante diz: “Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a Ordem do Presbiterado”. E todos dizem: “Graças a Deus”.
Homilia
Dando sequência, o bispo, brevemente, fala ao povo de Deus sobre este momento forte na vida da comunidade; bem como sobre o sacramento da Ordem Sacerdotal. E, dirige-se ao ordenando, admoestando e animando-o acerca deste ministério para o qual será ordenado.
Propósito do Eleito
Após a homilia, o eleito, em pé, responde às seguintes interrogações feitas pelo bispo:
- Queres, pois, desempenhar sempre a missão de sacerdote no grau de presbítero, como fiel colaborador da Ordem episcopal, apascentando o rebanho do Senhor, sob a direção do Espírito Santo?
- Queres, com dignidade e sabedoria, desempenhar o ministério da palavra, proclamando o Evangelho e ensinando a fé católica?
- Queres celebrar com devoção e fidelidade os ministérios de Cristo, sobretudo pelo sacrifício eucarístico e o sacramento da reconciliação, para o louvor de Deus e santificação do povo cristão, segundo a tradição da Igreja?
- Queres implorar conosco a misericórdia de Deus em favor do povo a ti confiado, sendo fielmente assíduo ao dever da oração?
- Queres unir-te cada vez mais ao Cristo, sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com ele consagrado a Deus para salvação da humanidade?
O ordenando, ao responder “Quero”, afirma publicamente o propósito de aceitar esses encargos. Em seguida, o eleito ajoelhado põe suas mãos postas entre as do Bispo, e, esse interroga: “Prometes respeito e obediência ao Bispo diocesano e ao teu legítimo superior?”; Eleito: “Prometo”; Sendo assim, o bispo conclui dizendo: “Deus, que te inspirou este bom propósito, te conduza sempre mais à perfeição”.
Ladainha
O Bispo convida o povo a rogar a Deus Pai que derrame com largueza a sua graça sobre este seu servo, que ele escolheu para o cargo de presbítero. O eleito prosta-se, como sinal de sua total entrega a Deus. E, durante a ladainha, segundo o n.155 do Pontifical Romano, se for domingo e no tempo pascal, os demais permanecem de pé; no entanto, nos outros dias, de joelhos.
Terminada a ladainha, o bispo, de mãos estendidas reza:
“Ouvi-nos, Senhor, nosso Deus, e derramai sobre este vosso servo a bênção do Espírito Santo e a força da graça sacerdotal, a fim de que acompanheis com a riqueza de vossos dons o que apresentamos à vossa solicitude para ser consagrado. Por Cristo, nosso Senhor”.
Imposição das mãos e Prece de Ordenação
Esta parte decorrente é tida como aquela que, no silêncio do coração, o bispo e todos os presbíteros presentes pedem a Deus pelo ordenando. Esse, estando de joelhos, em silêncio, o bispo impõe as mãos sobre sua cabeça, seguido pelos presbíteros.
Depois do longo silêncio, o bispo reza ou canta a oração da ordenação, na qual são citadas as principais tarefas do sacerdote. Nessa oração é lembrada a relação dos setenta mais velhos com Moisés. O sacerdote é descrito principalmente como colaborador do bispo, instrutor da fé e divulgador da palavra de Deus. O pedido mais importante é colocado pelo bispo nas palavras: “Dê a seus servidores a virtude sacerdotal. Renove neles o espírito de santidade. Faça, ó Deus, com que eles se atenham ao ofício que receberam da sua mão; que a vida deles seja para todos estímulo e fio condutor. Abençoe, santifique e ordene os servidores pelo Senhor”. A oração transpira o espírito da Primeira Carta de Timóteo. Nela é dito que o encarregado do ministério deve manter o bem que lhe foi confiado, deve passar adiante fielmente o tesouro que recebeu na mensagem de Jesus, nosso Salvador. Já naquela época, o autor da Carta de Timóteo precisava exortar os encarregados pelos ministérios a viver de acordo com seu serviço. Aquele que é ordenado sacerdote reflete algo sagrado que oferece aos outros. (GRÜN, A. 2007, p. 33-34).
Unção das mãos e entrega do pão e do vinho
A última parte do Rito de Ordenação apresenta alguns símbolos, ricos em significado e que indicam o ministério sacerdotal da Ordem.
Terminada a Prece de Ordenação, o eleito, com o auxílio de um ou dois presbíteros, é revestido com a estola sacerdotal e a casula. Em seguida, de joelhos, a palma das mãos do ordenado é ungida pelo bispo com o óleo do santo Crisma. Segue-se a seguinte oração: “Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo, e revestiu de poder, te guarde para a santificação do povo fiel e para oferecer a Deus o santo Sacrifício”.
Logo após, o bispo amarra as mãos do ordenado, e, onde for costume, é desamarrada por quem receberá a primeira bênção sacerdotal.
Em seguida, os fiéis trazem o pão na patena, e o vinho e a água no cálice, para a celebração da Missa. O diácono os recebe e entrega ao bispo, que os entrega ao Ordenado, ajoelhado diante de si, dizendo: “Recebe a oferenda do povo para apresentá-la a Deus. Toma consciência do que vais fazer e põe em prática o que vais celebrar, conformando tua vida ao mistério da cruz do Senhor”.
Por fim, como sinal alegre de acolhimento ao neo-sacerdote, o bispo e o colégio dos presbíteros presentes o abraçam. Segue, então, a liturgia eucarística, onde o ordenado exerce, pela primeira vez, o seu ministério, concelebrando-a com o bispo e os outros membros do presbitério.
Ao término da celebração, o bispo estende suas mãos sobre o ordenado e sobre o povo dizendo:
“Deus, pastor e guia da Igreja, te guarde constantemente com sua graça para cumprirdes com fidelidade os deveres de presbítero. Amém.
Ele te faça no mundo servo e testemunha da verdade e do amor de Deus e ministro fiel da reconciliação. Amém.
Ele te faça verdadeiro pastor que leve ao seu povo o Pão vivo e a Palavra de vida, para que cresça na unidade do Corpo de Cristo. Amém.
E a todos vós aqui reunidos, abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém”.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pentecostes, por Dom Pedro José Conti

No domingo de Pentecostes, devemos refletir sobre o Espírito Santo, a “força do alto”, o advogado, o consolador, prometido e doado por Jesus. Ele mesmo quando falou do Espírito a Nicodemos o comparou ao vento, porque sopra onde quer e ninguém sabe de onde vem e para onde vai (cf. Jo 3,8). Não tem portas e nem janelas que possam segurá-lo. O Espírito é a liberdade de Deus para amar. Uma liberdade que, parece uma contradição, o obriga a amar. Deus não escolhe e por isso não pode errar e nem fazer menos, pior ou diferente. É a perfeita liberdade de fazer e escolher sempre o único melhor: amar. Também se pode custar a vida do Filho encarnado.

O Espírito é o contrário do interesse, da ganância, do lucro e da vantagem. O Espírito é pura gratuidade. Se não fosse assim, se Deus escolhesse as coisas para ter algo em troca, esta, sim, seria uma contradição do amor. Não seria mais o amor total. Como as brincadeiras das crianças, muito ocupadas em gastar livremente as suas energias. Liberdade e gratuidade juntas para amar.

Pensando bem, o Espírito Santo é também o contrário da prudência, do medo, dos cálculos estratégicos. Os apóstolos perdem o medo, as portas são escancaradas; não para que entrem os judeus ameaçadores, mas para que eles possam sair. A boa notícia de Jesus agora está livre para chegar até os confins da terra.

O Espírito Santo é o contrário da dúvida, da confusão, da desunião. A fé é proclamada sem titubeios: Jesus é o Senhor. O anúncio é ouvido e compreendido por cada um em sua própria língua. Os povos continuam diferentes com sua própria história e sua própria cultura, mas agora se encontram para formar um único corpo onde as diversidades enriquecem e vale para todos e acima de todos o bem comum.

O dia de Pentecostes é também o dia do envio em missão. Depois daquele dia, o Evangelho nunca mais voltou atrás. Nós, os cristãos, é que podemos ficar parados, podemos ter resolvido dar um tempo, decidido descansar. O Espírito Santo não, porque vai à nossa frente, antecipa-se, prepara os ouvidos e os corações para que acolham a Palavra de Vida. O Espírito Santo é a força da evangelização. Ajuda o pregador a falar, o catequista a explicar, os pais a educarem na fé os seus filhos. Mas também está com os filhos, com os que buscam a verdade e até com os indiferentes, incomodados pela Boa Notícia.

O Espírito não promete nada em troca. Ele mesmo é a meta e o prêmio. É só gratuidade e liberdade porque somente é amor.

Dom Pedro José Conti

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Papa Francisco e sua simplicidade


Papa Francisco: Imitador da simplicidade de Jesus Cristo

            A Igreja para o Papa Francisco existe para transparecer Jesus Cristo. Por isso ela deve ser pobre, simples, generosa e alegre.
            A pobreza pessoal de Bergoglio não é oportunismo midiático, ele sempre foi assim. Nunca se sentiu digno de deixar-se servir e os seus gestos simples de serviço são conhecidos. Sempre evitou mostrar-se como superior. O gosto pela simplicidade é outra característica sua que pode desconcertar as praticas e costumes do Vaticano.
            O Papa Francisco é simples não apenas nas roupas que veste e na linguagem que usa, mas também nos costumes. A sua opção pela simplicidade não é apenas amor à pobreza, mas é desejo de assemelhar-se mais com os pobres, sentindo-se um deles, de modo que os pobres fiquem mais à vontade com seu pastor. Por isso, a linguagem que o Papa Francisco usa é de fácil compreensão e acessível a todos.
            Algumas pessoas pode se enganar, pensando que ele não tenha boa formação teológica; seria um erro afirmar isso. O jesuíta Bergoglio é um pensador com ampla e profunda cultura e uma sólida formação teológica. A sua preocupação não é deslumbrar, mas sim, ser acessível a todos.
A simplicidade de Bergoglio é perceptível no conteúdo que ele seleciona e destaca em seus escritos e discursos e também na forma didática que os apresenta. Ele entende que a sua pregação deve manter uma dimensão sadia onde a insistência em que algumas coisas, por mais importantes que sejam, não ofusquem o brilho daquelas que espelham diretamente o Jesus do Evangelho.
Extraído da Revista “O Mílite” nº 265. p. 16-18
Artigo o Padre e Doutor Victor Manuel Fernandez,
antigo amigo e colaborador do Cardeal Bergoglio.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A atividade humana no mundo


Da Constituição pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja 
no mundo contemporâneo, do Concílio Vaticano II


Por seu trabalho e inteligência, o homem procurou sempre mais desenvolver a sua vida.
Hoje em dia, porém, ajudado antes de tudo pela ciência e pela técnica, ele estendeu
continuamente o seu domínio sobre quase toda a natureza; e, principalmente, graças aos
meios de intercâmbio de toda espécie entre as nações, a família humana pouco a pouco se
reconhece e se constitui como uma só comunidade no mundo inteiro. Por isso, muitos bens
que o homem esperava antigamente obter sobretudo de forças superiores, hoje os consegue
por seus próprios meios.

Diante deste esforço imenso, que já penetra a humanidade inteira, surgem muitas perguntas
entre os homens. Qual é o sentido e o valor desta atividade? Como todas estas coisas devem
ser usadas? Qual a finalidade desses esforços, sejam eles individuais ou coletivos?

A Igreja, guardiã do depósito da palavra de Deus, que é a fonte dos seus princípios de
ordem religiosa e moral, embora ainda não tenha uma resposta imediata para todos os
problemas, deseja no entanto unir a luz da revelação à competência de todos, para iluminar
o caminho no qual a humanidade entrou recentemente.

Para os fiéis é pacífico que a atividade humana individual e coletiva, aquele imenso esforço
com que os homens, no decorrer dos séculos, tentaram melhorar as suas condições de vida,
considerado em si mesmo, corresponde ao plano de Deus.

Com efeito, o homem, criado à imagem de Deus, recebeu a missão de dominar a terra com
tudo o que ela contém e de governar o mundo na justiça e na santidade, isto é,
reconhecendo a Deus como Criador de todas as coisas, orientando para ele o seu ser e todo
o universo; assim, com todas as coisas submetidas ao homem, o nome de Deus seja
glorificado na terra inteira.

Isto diz respeito também aos trabalhos cotidianos. Pois os homens e as mulheres que, ao
procurar o sustento para si e suas famílias, exercem suas atividades de maneira a bem servir
à sociedade, têm razão para ver no seu trabalho um prolongamento da obra do Criador, um
serviço a seus irmãos e uma contribuição pessoal para a realização do plano de Deus na
história.

Portanto, bem longe de pensar que as obras produzidas pelo talento e esforço dos homens
se opõem ao poder de Deus, ou considerar a criatura racional como rival do Criador, os
cristãos, pelo contrário, estão convencidos de que as vitórias do gênero humano são um
sinal da grandeza de Deus e fruto de seus inefáveis desígnios. Quanto mais, porém, cresce o
poder dos homens, tanto mais aumenta a sua responsabilidade, seja pessoal seja
comunitária.

Donde se vê que a mensagem cristã não afasta os homens da tarefa de construir o mundo
nem os leva a negligenciar o bem de seus semelhantes; mas, antes, os impele a sentir esta
obrigação como um verdadeiro dever.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

As causas do abandono da Fé e da Igreja Católica, por Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer


Os motivos do abandono da fé católica, no entanto, devem ser examinados por nós, levando-nos às decisões que nos cabem tomar, com o coração movido pela caridade pastoral, por amor às pessoas, respeito e amor à verdade

A causa do abandono da fé católica pode ser o conhecimento insuficiente ou apenas superficial da fé e da própria Igreja Católica. Muitas pessoas nunca foram verdadeiramente evangelizadas, nem tiveram a oportunidade de fazer uma experiência genuína e gratificante da fé em Deus na nossa Igreja. Não se ama o que não se conhece. E, não havendo raízes profundas nem identificação pessoal sólida com a fé e a Igreja Católica, o abandono acontece com facilidade.

O que devemos fazer nesses casos? Certamente, é preciso evangelizar mais e melhor, dando aos fiéis a oportunidade de conhecerem melhor a Deus e a Igreja, e de fazerem a experiência gratificante e profunda da fé. Devemos propor a verdade integral do Evangelho, sem poupar esforços para convidar as pessoas a fazerem um caminho de crescimento e amadurecimento na fé.

Acontece também que as pessoas abandonam a fé católica e a Igreja porque ficam decepcionadas com o nosso atendimento, nem sempre acolhedor. Isso nos deve levar, evidentemente, a rever nossos modos de tratar as pessoas. Ninguém espera ser tratado mal, ainda mais por quem representa a Igreja e fala em nome de Deus. E isso vale para nossos atos oficiais, como as celebrações, mas também para as relações pessoais dos católicos.

Entre as causas do abandono da fé e da Igreja Católica também está a discordância com a nossa doutrina moral ou mesmo com artigos da nossa fé. Nesse caso, por certo, não devemos renunciar à nossa fé, nem ocultar as exigências morais que decorrem do Evangelho. Mas, devemos cuidar de não transformar a fé em moralismo superficial, nem deixar de propor o encontro vital com Deus por meio de Jesus Cristo, antes de tratar das exigências morais do Evangelho. O resto será obra da graça de Deus, que conta com o diálogo paciente e respeitoso, o testemunho pessoal de vida cristã e o desejo sincero de ganhar irmãos para Cristo, para que tenham, por ele, a vida verdadeira.

Há também o fato da pregação contrária à Igreja Católica e sua doutrina, que leva muitos irmãos ao engano, ao abandono da fé e ao desprezo da Igreja. Nesse caso, cabe-nos defender as ovelhas do nosso rebanho e vigiar, mostrando-lhes a verdade e esclarecendo os aspectos em que sua fé e seu amor à Igreja são abalados.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Veste clerical, um sinal


Da mesma forma de que o jaleco branco identifica o médico e a farda identifica o militar, o traje clerical identifica os clérigos, ou seja, aqueles que receberam o sacramento da Ordem (diáconos, padres e bispos).
O traje clerical é um sinal de consagração sacerdotal ao Senhor e pode ser a tradicional batina preta ou calça e camisa com colarinho romano ou “clergyman”. É utilizado pelos clérigos diocesanos e pelos religiosos que não possuem hábito próprio, como os jesuítas e os salesianos.
O Código de Direito Canônico (Cân 284) não obriga o uso do traje clerical, mas recomenda. A Igreja no Brasil diz que o traje eclesiástico deve ser digno e simples.
O colarinho clerical é uma invenção bastante moderna. Foi desenvolvido para ser usado no trabalho cotidiano do ministro (mais prático que a batina). Hoje é usado por pastores nas diversas denominações Cristãs como presbiteriana, luterana, metodista, pentecostais e, também, por ministros Cristãos não denominacionais. Os católicos romanos passaram a usá-lo a partir do Concilio Vaticano II, em substituição a batina.
O colarinho clerical simboliza que quem o usa é um servo. As pessoas que o usam servem como Ministros de sua Palavra. Toda a igreja tem compromisso com o testemunho de Cristo no mundo, no entanto, o pastor compromete-se de modo específico com o Ministério da Palavra. Assim, o colarinho clerical simboliza esse compromisso pastoral com o anúncio do Evangelho. O colarinho branco sobre fundo preto envolvendo a garganta é simbólico da Palavra de Deus proclamada.
O uso de símbolos é um sinal e um testemunho vivo de Deus no mundo secularizado. Pois uma das características do movimento de secularização o desprezo por sinais e símbolos religiosos. Para as pessoas o fato de ver um ministro com o colarinho clerical já é um testemunho de fé.
Um padre em um colarinho romano é uma inspiração para outros, pois estes concluem: “Aqui esta um discípulo moderno de Jesus.”


quarta-feira, 3 de abril de 2013

O que é Páscoa?


Páscoa é uma palavra vinda do hebraico e significa “passagem”. A Páscoa cristã nasceu da Páscoa judaica, que tem suas raízes numa festa ligada aos pastores. Para eles páscoa era a passagem de uma pastagem a outra e nesta ocasião imolavam cordeiros à divindade.
Os hebreus adotaram essa festa antiga e a transformaram na grande festa que marca sua saída da escravidão no Egito, passando o Mar Vermelho a pé enxuto rumo à terra da liberdade e da vida.  O ritual da Páscoa judaica é apresentado no livro do Êxodo, capítulo 12. Páscoa significa, portanto, já no Antigo Testamento, passagem da escravidão à liberdade, da morte à vida.
A festa da Páscoa passou a ser uma festa cristã após a última ceia de Jesus com os apóstolos, na Quinta-feira santa (Mt 26, 17-20). Ao celebrar a Páscoa judaica Jesus inaugurou a própria páscoa, ou seja, sua passagem deste mundo para o Pai.
A páscoa de Jesus consta de três momentos: a celebração ritual (última ceia), com um sentido novo ligado à sua paixão e à memória que seus apóstolos deverão fazer; a morte na cruz, onde Jesus se faz o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo e a ressurreição, verdadeira e extraordinária passagem da morte para a vida.
Jesus venceu a morte e abriu as portas da eternidade para todos nós (I Cor 15, 20), ou seja, Ele abriu-nos a passagem para a vida eterna. Reza o prefacio da páscoa I, que, Cristo, morrendo, destruiu a morte e, ressurgindo, garantiu-nos a vida em plenitude. Com isso, a ressurreição de Jesus é garantia da nossa ressurreição. “Cremos firmemente – e assim esperamos – que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado” (CIC 989).
Desde os primeiros tempos a Igreja celebra a Páscoa como comemoração da passagem de Cristo desta vida terrena para a vida da glória, através da sua paixão, morte e ressurreição. Para nós a Páscoa é a nossa definitiva passagem do mundo do pecado e da escravidão para uma vida de justiça e de amor, isto é, de libertação da escravidão do mal para a vida de filhos de Deus.
Portanto, que nesta Páscoa passemos a viver uma vida nova em Cristo Jesus. Essa renovação devemos buscar continuamente até realizarmos um dia a nossa passagem definitiva desta vida para a outra vida, a eterna.
Diácono Marcio Canteli, Páscoa 2013

Papa Francisco: Do fim do mundo para o cerne do Evangelho, por Afonso M.L.Soares



Os dias que antecederam ao conclave foram de perplexidade no mundo católico e de uma curiosidade por vezes mórbida por parte de expectadores outsiders. Os palpites espalhados pelos meios de comunicação internacionais revelaram-se equivocados. Parece que todos nos esquecemos da antiga e famosa repreensão de Dante Alighieri: "Quem és tu que queres julgar, com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?". Ninguém acertou e, mais uma vez, o Vento soprou onde quis (Jo 3).

Havia, porém, quem acalentasse o sonho de ver no Vaticano alguém próximo do que fora João XXIII ou do que poderia ter sido João Paulo I, que nos encantara durante 33 dias. De certo, porém, só tínhamos a convicção de que deveria ser alguém de perfil conservador, de sólida doutrina e moral irrepreensível. Também parecia provável que os cardeais eleitores teriam em mente a necessidade de escolher uma pessoa com potencial para ser um líder espiritual e com disposição para aprofundar a necessária reforma na cúria romana que Bento XVI tentara encaminhar.

Finalmente, no último dia 13 de março, católicos do mundo inteiro foram dormir exultantes e esperançosos. De repente, as terríveis notícias que nos assombraram nos últimos meses caíram ao segundo plano. Jorge Mario cardeal Bergoglio deixava a metrópole de Buenos Aires para entrar para a história como o 266º Papa da Igreja Católica, o 1º não europeu em 1200 anos, o 1º oriundo da América Latina e o único jesuíta escolhido para o cargo até então. Homem simples, soube-se depois, estava habituado a viver sem pompas, em meio aos pobres.

Mas não pararam aí as surpresas que o Sumo Pontífice reservava a todos, inclusive aos não católicos. Bastaram poucos minutos de contato com a multidão que lotava a Praça São Pedro, e com os bilhões que acompanhavam o evento pela mídia, para que este padre, conservador na doutrina e desconcertante no testemunho de pobreza e humildade, encantasse-nos com seu sorriso simples e a ternura de quem é experiente no cuidado pastoral. A começar pelo nome escolhido: Francisco, o Poverello de Assis, exemplo de uma santidade radical que se espalhou pela Europa no início do século XIII. Bastou a escolha do nome, inédita entre papas, para sintetizar um programa de ação que, seguramente, será mais pastoral, mais espiritual e mais insistente na prática da charitas cristã.

O primeiro gesto do Pontífice eleito também não poderia ser mais emblemático: curvando-se diante do Povo de Deus, pediu que o abençoassem antes que ele lhes pudesse dar sua primeira bênção papal. Foi emocionante, generoso, profético. Papa Francisco, diga-se logo, não se apresenta como mera alternativa a Bento XVI. Sua missão é mais a de intensificar um trabalho que seu antecessor não teve forças e saúde para levar adiante. Bento XVI preferiu renunciar, corajosa e humildemente, passou o cajado.

E o cajado, agora, pertence a Francisco, o papa que veio, segundo suas próprias palavras, do fim do mundo. Mas que também já começa a deixar sua marca como novo líder espiritual católico. Sua missão é recolocar corações e estruturas desta Igreja voltados para o cerne do Evangelho. E nós, Povo de Deus peregrino nesta terra, queremos estar a seu lado nesse projeto, exatamente nesta posição: atrás das pegadas deixadas por Jesus de Nazaré.
Afonso M. L. Soares
Livre docente em Teologia pela PUC-SP.


sábado, 30 de março de 2013

Os símbolos da Vigília Pascal


O simbolismo do fogo

O fogo, reconhecido pelos antigos como um dos quatro elementos do mundo, é um princípio ativo.
Tem capacidade de purificar e regenerar. Os ritos de purificação são bem conhecidos, como as queimadas para limpar o terreno.
Em sentido translato, o fogo representa o amor, as paixões que se aninham nos corações.
O fogo purifica, aquece e ilumina. Na Bíblia, o fogo é sinal da presença e da ação de Deus no mundo. É expressão de santidade e transcendência divinas. (Ex 3,2ss: a sarça ardente).
Na liturgia da Vigília Pascal, o fogo representa a grande teofania de Deus: a nova criação realizada na ressurreição de Jesus.

O simbolismo da luz
A luz é força fecundante, condição indispensável para que haja vida. As trevas são símbolo do mal, da infelicidade, da perdição e da morte. A luz exalta o que é belo e bom.
Na Bíblia, Deus é luz: – O Senhor é minha luz e salvação – Sl 27,1; Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida – Jo 8,12;
Quem crê se torna luz: – vós sois a luz do mundo – Mt 5,14; - reflexo da luz de Cristo.
Representa Cristo Ressuscitado, - vencedor das trevas e da morte (os cravos do círio), - Senhor da história (os algarismos), - princípio e fim (A e Z), - sol que não conhece ocaso. É aceso com o fogo novo, produzido em plena escuridão, pois na Páscoa tudo renasce.
A aclamação “Eis a luz de Cristo!” é um memorial da Páscoa. A procissão com o Círio marca a presença de Cristo no meio do seu povo.

O simbolismo da água
A água é símbolo da vida. Sem água não há vida de forma alguma.
A imersão do Círio Pascal na água é a união do elemento divino com o humano, a força fecundante de Cristo, – gerador de vida nova, – para que todos os que se banharem nessa água fecundada se tornem filhos de Deus.
A água simboliza a vida, fertiliza a terra, mata a nossa sede, lava-nos e purifica-nos … Lembra a imersão batismal pela qual nos tornamos filhos de Deus. Representa o novo nascimento: “quem não renascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus”.

O simbolismo da cor branca
Embora os símbolos fortes e marcantes da Vigília Pascal sejam o fogo, a luz e a água, queremos também lembrar o simbolismo da cor branca que predominará durante todo o tempo pascal.
O branco é a cor da alegria e da festividade. 
No monte da transfiguração, a face de Cristo ficou brilhante como o sol, “e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz” (Mt 17,2). “Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de alvura tal como nenhuma lavadeira na terra as poderia alvejar” (Mc 9,3). Os anjos presentes na ressurreição do Senhor sentavam-se, “vestidos de branco” junto ao sepulcro (Jo 20,12). No Apocalipse a cor branca simboliza a pureza perfeita e a glória inacessível. Aqueles que entram na Jerusalém celeste, vindos da grande tribulação, “lavaram suas vestes e alvejaram-nas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,13s).
Os paramentos brancos anunciam a vitória sobre o mal … e a paz que Jesus Ressuscitado nos dá. Apontam para o viver revestido dos mesmos sentimentos de Jesus: “como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência …” (Cl 3,12). As vestes brancas identificam os que são fiéis a Jesus e estão inscritos no Livro da Vida (Ap 3,4-5).


domingo, 17 de março de 2013

Convite Ordenação Diaconal


Primeiras palavras do Papa Francisco



E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. 
Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. 
Rezemos sempre uns pelos outros. 
Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade.


Papa Francisco

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Perfil do Cristão: Ser justo, fazer a vontade de Deus


A identidade do cristão deve estar em consonância com a vontade de Deus. Mas qual é esta vontade? Dentro da visão bíblica, ela está solidificada na palavra “justiça”. Ali o justo é descrito como aquele que faz a vontade de Deus. Isto acontece no relacionamento com os outros, no respeito aos direitos e deveres das pessoas com quem convive.
Fazer justiça numa cultura individualista e marcada pela desleal competitividade é um grande desafio. Todas as pessoas são envolvidas e colocadas à prova, a atitudes que exigem determinação e critério evangélicos. Não é fácil ser coerente, autêntico e justo. Supõe formação porque a tendência à maldade está presente em todo ser humano.
Não estamos num mundo de condenações. É possível superar as injustiças passando por um caminho de conversão, experimentando também a via da misericórdia. Deus é misericordioso, capaz de perdoar a quem reconhece e muda de prática em suas injustiças. O perdão é sabedoria e bondade divina. Isto ocasiona vida e paz para as pessoas.
Ser cristão é desfrutar de um dom concedido por Deus, é um patrimônio disponibilizado para todos, mas vivenciado por uma minoria. Sua base está na audição da Palavra de Deus, que orienta, mostra o caminho da justiça, da misericórdia, do perdão e de renúncia aos mecanismos do mal.
A vida do cristão é ajustada com a vida de Cristo, no seguimento da vontade de Deus. É isto que registra seu perfil, isto é, sua opção e prática da verdade, da justiça e da misericórdia. É o que Deus espera do ser humano, uma resposta às propostas de salvação, que passa pela Quaresma, chegando à plenitude na Páscoa.
Falar em ser cristão hoje parece ressoar mal em nossos ouvidos. Isto não é mais levado em conta e até interpretado como “fora de contexto”, de estar na contramão da história. Será mesmo assim ou caímos num profundo distanciamento das práticas que nos identificam com Deus! Dá impressão de que o mundo vai perdendo, cada dia mais, sua qualidade de vida.
Por Dom Paulo Mendes Peixoto – Arcebispo de Uberaba (MG)