quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Racionalidade da fé em Deus


Quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Queridos irmãos e irmãs,

Avançamos neste Ano da Fé, trazendo em nosso coração a esperança de redescobrir quanta alegria tem no crer e de reencontrar o entusiasmo de comunicar a todos a verdade da fé. Estas verdades não são uma simples mensagem sobre Deus, uma particular informação sobre Ele. Expressam, ao invés disso, o evento do encontro de Deus com os homens, encontro salvífico e libertador, que realiza as aspirações mais profundas do homem, e seus desejos de paz, de fraternidade, de amor. A fé leva a descobrir que o encontro com Deus valoriza, aperfeiçoa e eleva quanto de verdade, de bom e de belo tem no homem. Acontece que, enquanto Deus se revela e se deixa conhecer, o homem vem a saber quem é Deus e, conhecendo-O, descobre a si mesmo, a própria origem, o próprio destino, a grandeza e a dignidade da vida humana. 

A fé permite um saber autêntico sobre Deus que envolve toda a pessoa humana: é um “saber”, isto é, um conhecer que doa sabor à vida, um gosto novo de existir, um modo alegre de estar no mundo. A fé se exprime no doar a si mesmo para os outros, na fraternidade que faz solidariedade, capaz de amar, vencendo a solidão que deixa triste. Este conhecimento de Deus através da fé não é por isso somente intelectual, mas vital. É o conhecimento de Deus-Amor, graças ao seu próprio amor. O conhecimento de Deus é, portanto, experiência de fé e implica, ao mesmo tempo, um caminho intelectual e moral. 

Hoje nesta catequese gostaria de me concentrar sobre a racionalidade da fé em Deus. A tradição católica desde o início rejeitou o assim chamado fideísmo, que é a vontade de crer contra a razão. Creio quia absurdum (creio porque é absurdo) não é fórmula que interpreta a fé católica. Deus, na verdade, não é absurdo, mas sim é mistério. O mistério, por sua vez, não é irracional, mas uma superabundância de sentido, de significado, de verdade. Se, olhando para o mistério, a razão vê escuridão, não é porque no mistério não tenha a luz, mas porque existe muita (luz). Assim como quando os olhos do homem se dirigem diretamente ao sol para olhá-lo, veem somente trevas; mas quem diria que o sol não é luminoso, antes a fonte da luz? A fé permite olhar o “sol”, Deus.

A fé constitui um estímulo a buscar sempre, a não parar nunca e nunca aquietar-se na descoberta inesgotável da verdade e da realidade. Intelecto e fé não são estranhas ou antagonistas, mas são ambas duas condições para compreender o sentido.
A fé católica é, portanto, racional e nutre confiança também na razão humana. No irresistível desejo de verdade, só um harmonioso relacionamento entre fé e razão é a estrada certa que conduz a Deus e à plena realização de si. 

Sobre essas premissas acerca da ligação fecunda entre compreender e crer, funda-se também o relacionamento virtuoso entre a ciência e a fé. A pesquisa científica leva ao conhecimento da verdade sempre novas sobre o homem e sobre o cosmos. Deve, portanto, ser encorajada, por exemplo, as pesquisas colocadas à serviço da vida e que visam erradicar as doenças. Importantes são também as investigações para descobrir os segredos do nosso planeta e do universo, na consciência de que o homem está no vertical da criação não para explorá-la sem sentido, mas para protegê-la e torná-la habitável. Assim, a fé, vivida realmente, não entra em conflito com a ciência, mas coopera com essa, oferecendo critérios basilares para que promova o bem de todos. 

Confiemos, então, que o nosso empenho na evangelização ajude a dar nova centralidade ao Evangelho na vida de tantos homens e mulheres do nosso tempo. E rezemos para que todos redescubram em Cristo o sentido da existência e o fundamento da verdadeira liberdade: sem Deus, de fato, o homem perde a si mesmo. Os testemunhos de quantos nos antecederam e dedicaram a sua vida ao Evangelho o confirmam para sempre. É racional crer, está em jogo a nossa existência. Vale a pena se gastar por Cristo, somente Ele satisfaz os desejos de verdade e de bem enraizados na alma de cada homem: ora, no tempo que passa, e no dia sem fim da Eternidade bem aventurada. 

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