Hoje gostaria de dar outro passo em nossa reflexão, começando mais
uma vez, por algumas perguntas: a fé tem um caráter somente pessoal,
individual? Interessa somente a minha pessoa? Vivo a minha fé sozinho? Certo, o
ato de fé é um ato eminentemente pessoal, que vem do íntimo mais profundo e
sinaliza uma troca de direção, uma conversão pessoal: é a minha existência que
recebe uma mudança, uma orientação nova.
Este meu crer não é resultado de uma reflexão minha, solitária, não
é o produto de um pensamento meu, mas é fruto de uma relação, de um diálogo, no
qual tem um escutar, um receber e um responder; é o comunicar com Jesus que me
faz sair do meu “eu” fechado em mim mesmo para abrir-me ao amor de Deus Pai.
Não posso construir a minha fé pessoal em um diálogo privado com
Jesus, porque a fé é doada a mim por Deus através de uma comunidade que crê que
é a Igreja e me insere assim na multidão dos crentes em uma comunhão que não é
somente sociológica, mas enraizada no amor eterno de Deus, que em Si mesmo é
comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é Amor trinitário. A nossa
fé é realmente pessoal, somente se é também comunitária: pode ser a minha fé
somente se vive e se move no “nós” da Igreja, só se a nossa fé é, a fé comum da
única Igreja.
Aos domingos, na Santa Missa, recitando o “Credo”, nós nos
expressamos em primeira pessoa, mas confessamos comunitariamente a única fé da
Igreja. Aquele “credo” pronunciado singularmente nos une àquele de um imenso
coro no tempo e no espaço, no qual cada um contribui, por assim dizer, a uma
harmoniosa polifonia na fé. O Catecismo da Igreja Católicaresume de modo claro assim: “‘Crer’ é um ato
eclesial. A fé da Igreja antecede, gera, sustenta e nutre a nossa fé. A Igreja
é a Mãe de todos os crentes. ‘Ninguém pode dizer que tem Deus como Pai, se não
tem a Igreja como Mãe’ [são Cipriano]” (n. 181). Então, a fé nasce na Igreja,
conduz a essa e vive nessa. Isso é importante recordar.
A Igreja, portanto, desde o início é o lugar da fé, o lugar da
transmissão da fé, o lugar onde, pelo Batismo, se é imersa no Mistério Pascal
da Morte e Ressurreição de Cristo, que nos liberta da escravidão do pecado, nos
doa a liberdade de filhos e nos introduz da comunhão com o Deus Trinitário. Ao
mesmo tempo, somos imersos na comunhão com os outros irmãos e irmãs de fé, com
todo o Corpo de Cristo, retirados do nosso isolamento.
Na liturgia do Batismo, notamos que, na conclusão das promessas em
que expressamos a renúncia ao mal e repetimos “creio” na verdade da fé, o
celebrante declara: “Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja e nós nos
glorificamos de professá-la em Cristo Jesus Nosso Senhor”. A fé é virtude
teologal, doada por Deus, mas transmitida pela Igreja ao longo da história.
Gostaria, por fim, de ressaltar que é na comunidade eclesial que a
fé pessoal cresce e amadurece. A
tendência, hoje difundida, de relegar a fé ao âmbito privado, contradiz então,
a sua própria natureza. Nós precisamos da Igreja para ter a confirmação da
nossa fé e para ter experiência com os dons de Deus: a Sua Palavra, os
Sacramentos, o sustento da graça e o testemunho do amor. Assim, o nosso
"eu" no "nós" da Igreja poderá ser percebido, ao mesmo
tempo, destinatário e protagonista de um evento que o supera: a experiência da
comunhão com Deus, que estabelece a comunhão entre as pessoas. Em um mundo
onde o individualismo parece regular as relações entre as pessoas, tornando-as
sempre mais frágeis, a fé nos chama a ser povo de Deus, a ser Igreja,
portadores do amor e da comunhão de Deus para todo gênero humano.
Catequese do dia 31 de outubro de 2012 – fonte: Zenit
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