O caminho de reflexão que estamos fazendo juntos neste Ano da Fé nos
leva a meditar hoje sobre um aspecto fascinante da experiência humana e cristã:
o homem traz consigo um misterioso desejo de Deus. De modo muito significativo,
o Catecismo da Igreja Católica inicia com a seguinte consideração: “O desejo de
Deus está inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e
para Deus; e Deus não cessa de atrair para si o homem e somente em Deus o homem
encontrará a verdade e a felicidade que busca sem parar” (n27).
O desejo humano tende sempre a determinados bens concretos,
frequentemente outros que não o espiritual, e ainda se encontra diante da
interrogação sobre o que realmente é “o” bem, e então a se confrontar com
qualquer coisa fora de si, que o homem não pode construir, mas é chamado a
reconhecer.
Através do amor, o homem e a mulher experimentam de um modo novo a
grandeza e a beleza da vida. Quanto mais autêntico é o amor pelo outro,
mais isso deixa em aberto a interrogação sobre sua origem e seu destino, sobre
a possibilidade que há de durar para sempre. Assim, a experiência humana do
amor tem em si um dinamismo que leva além de si mesma, é experiência de um bem
que leva a sair de si e encontrar-se diante de um mistério que envolve toda a
existência.
Considerações análogas poderiam ser feitas também a propósito de
outras experiências humanas, como a amizade, a experiência do belo, o amor pelo
conhecimento: cada bem experimentado pelo homem conduz em direção ao mistério
que envolve o próprio homem; cada desejo que se aproxima do coração humano se
faz eco de um desejo fundamental que jamais será plenamente satisfeito.
Deste ponto de vista surge o mistério: o homem é um buscador do
Absoluto, um buscador a passos pequenos e incertos. E, todavia, a experiência
do desejo, do “coração inquieto” como o chamava Santo Agostinho, já é
significativa. Isso atesta que o homem é, no fundo, um ser religioso (cfr
Catecismo da Igreja Católica, 28), um “mendigo de Deus”. Podemos dizer com as
palavras de Pascal: “O homem supera infinitamente o homem” (Pensamentos, Ed
Chevalier 438; Ed Brunschvicg 434). Os olhos reconhecem os objetos quando estes
são iluminados pela luz. Daí o desejo de conhecer a mesma luz, que faz brilhar
as coisas do mundo e com essa acende o sentido da beleza.
Devemos, portanto, levar em consideração que é possível também na
nossa época, aparentemente muito refratária à dimensão transcendente, abrir um
caminho em direção ao autêntico sentido religioso da vida, que mostra como o
dom da fé não é absurdo, não é irracional.
Educar desde a infância a saborear as verdadeiras alegrias, em
todos os âmbitos da existência – a família, a amizade, a solidariedade com quem
sofre, a renuncia ao próprio eu para servir ao outro, o amor pelo conhecimento,
pela arte, pela beleza da natureza-, tudo isso significa exercitar o gosto
interior e produzir anticorpos eficazes contra a banalização e o abatimento
hoje difundidos. Os adultos também precisam redescobrir esta alegria, de
desejar realidades autênticas.
Todos, aliás, precisamos percorrer um caminho de purificação e de
cura do desejo. Somos peregrinos em direção à pátria celestial, em direção ao
bem pleno, eterno, que nada jamais nos poderá tirar. Não se trata, portanto, de
sufocar o desejo que está no coração do homem, mas de libertá-lo, para que
possa alcançar a sua verdadeira altura. Quando no desejo se abre a janela em
direção a Deus, isto já é um sinal da presença da fé na alma, fé que é graça de
Deus. Santo Agostinha sempre afirmava: “Com a expectativa, Deus fortalece o
nosso desejo, com o desejo alarga a nossa alma e dilatando-o deixa-o mais
capaz” (Comentário da Primeira cata de João, 4, 6: PL 35, 2009).
Rezemos, neste Ano da fé, para que Deus mostre a sua face a todos aqueles
que o buscam com coração sincero.
Catequese do dia 7 de novembro de 2012 – Fonte: Zenit
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