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Sacerdote da Diocese de Bragança Paulista Pároco da Paróquia Santo Afonso em Pinhalzinho Assessor da PASCOM da Diocese de Bragança Paulista
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Os sete dons do Espírito Santo e as sete virtudes
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Racionalidade da fé em Deus
Quarta-feira, 21 de novembro
de 2012
Queridos irmãos e irmãs,
Avançamos neste Ano da Fé, trazendo em nosso
coração a esperança de redescobrir quanta alegria tem no crer e de reencontrar
o entusiasmo de comunicar a todos a verdade da fé. Estas verdades não são uma
simples mensagem sobre Deus, uma particular informação sobre Ele. Expressam, ao
invés disso, o evento do encontro de Deus com os homens, encontro salvífico e
libertador, que realiza as aspirações mais profundas do homem, e seus desejos
de paz, de fraternidade, de amor. A fé leva a descobrir que o encontro com Deus
valoriza, aperfeiçoa e eleva quanto de verdade, de bom e de belo tem no homem.
Acontece que, enquanto Deus se revela e se deixa conhecer, o homem vem a saber
quem é Deus e, conhecendo-O, descobre a si mesmo, a própria origem, o próprio
destino, a grandeza e a dignidade da vida humana.
A fé permite um saber autêntico sobre Deus que
envolve toda a pessoa humana: é um “saber”, isto é, um conhecer que doa sabor à
vida, um gosto novo de existir, um modo alegre de estar no mundo. A fé se
exprime no doar a si mesmo para os outros, na fraternidade que faz
solidariedade, capaz de amar, vencendo a solidão que deixa triste. Este
conhecimento de Deus através da fé não é por isso somente intelectual, mas
vital. É o conhecimento de Deus-Amor, graças ao seu próprio amor. O
conhecimento de Deus é, portanto, experiência de fé e implica, ao mesmo tempo,
um caminho intelectual e moral.
Hoje nesta catequese gostaria de me concentrar
sobre a racionalidade da fé em Deus. A tradição católica desde o início
rejeitou o assim chamado fideísmo, que é a vontade de crer contra a razão.
Creio quia absurdum (creio porque é absurdo) não é fórmula que interpreta a fé
católica. Deus, na verdade, não é absurdo, mas sim é mistério. O mistério, por sua vez, não é irracional,
mas uma superabundância de sentido, de significado, de verdade. Se, olhando
para o mistério, a razão vê escuridão, não é porque no mistério não tenha a
luz, mas porque existe muita (luz). Assim como quando os olhos do homem se
dirigem diretamente ao sol para olhá-lo, veem somente trevas; mas quem diria
que o sol não é luminoso, antes a fonte da luz? A fé permite olhar o “sol”,
Deus.
A fé
constitui um estímulo a buscar sempre, a não parar nunca e nunca aquietar-se na
descoberta inesgotável da verdade e da realidade. Intelecto e fé não são
estranhas ou antagonistas, mas são ambas duas condições para compreender o
sentido.
A fé
católica é, portanto, racional e nutre confiança também na razão humana. No
irresistível desejo de verdade, só um harmonioso relacionamento entre fé e
razão é a estrada certa que conduz a Deus e à plena realização de si.
Sobre essas premissas acerca da ligação fecunda
entre compreender e crer, funda-se também o relacionamento virtuoso entre a
ciência e a fé. A pesquisa científica leva ao conhecimento da verdade sempre
novas sobre o homem e sobre o cosmos. Deve, portanto, ser encorajada, por
exemplo, as pesquisas colocadas à serviço da vida e que visam erradicar as
doenças. Importantes são também as investigações para descobrir os segredos do
nosso planeta e do universo, na consciência de que o homem está no vertical da
criação não para explorá-la sem sentido, mas para protegê-la e torná-la
habitável. Assim, a fé, vivida realmente, não entra em conflito com a ciência,
mas coopera com essa, oferecendo critérios basilares para que promova o bem de
todos.
Confiemos, então, que o nosso empenho na
evangelização ajude a dar nova centralidade ao Evangelho na vida de tantos
homens e mulheres do nosso tempo. E rezemos para que todos redescubram em
Cristo o sentido da existência e o fundamento da verdadeira liberdade: sem
Deus, de fato, o homem perde a si mesmo. Os testemunhos de quantos nos
antecederam e dedicaram a sua vida ao Evangelho o confirmam para sempre. É racional crer, está em jogo a nossa
existência. Vale a pena se gastar por Cristo, somente Ele satisfaz os desejos
de verdade e de bem enraizados na alma de cada homem: ora, no tempo que passa,
e no dia sem fim da Eternidade bem aventurada.
Caminhos para conhecer a Deus
Quarta-feira, 14 de novembro
de 2012
Caros irmãos e irmãs,
Quarta-feira passada refletimos sobre o desejo de Deus que o ser humano traz
consigo no profundo de si mesmo. Hoje gostaria de continuar a aprofundar este
aspecto meditando brevemente com vocês sobre algumas vias para chegar à
consciência de Deus. Gostaria de recordar, no entanto, que a iniciativa de Deus
antecede sempre cada iniciativa do homem e, também no caminho para Ele, é Ele
primeiro que nos ilumina, nos orienta e nos guia, respeitando sempre a nossa
liberdade. E é sempre Ele que nos faz entrar na sua intimidade, revelando-se e
doando-nos a graça para poder acolher esta revelação na fé. Não esqueçamos
nunca a experiência de Santo Agostinho: não somos nós a possuir a Verdade
depois de tê-la procurado, mas é a Verdade que nos procura e nos possui.
Todavia há algumas vias que podem abrir o coração do homem ao conhecimento de
Deus, há sinais que conduzem para Deus. Deus, porém, não se cansa de
procurar-nos, porque nos ama. Esta é uma verdade que deve nos acompanhar cada
dia, também se certas mentalidades propagadas tornam mais difícil à Igreja e ao
cristão comunicar a alegria do Evangelho a cada criatura e conduzir todos ao
encontro com Jesus, único Salvador do mundo. Esta, porém, é a nossa missão.
Hoje, o sabemos, não faltam dificuldades e provações para a fé, muitas vezes
mal compreendida, contestada, rejeitada. São Pedro dizia aos seus cristãos:
“Estejam sempre prontos a responder, mas com doçura e respeito, a quem lhe pede
a esperança que está em vossos corações”. No passado, no Ocidente, em uma
sociedade considerada cristã, a fé era o ambiente em que tudo acontecia; a
referência e a adesão a Deus eram, para a maioria das pessoas, parte da vida
cotidiana. Pelo contrário, aquele que não acreditava precisava justificar a
própria descrença. No nosso mundo, a situação mudou e sempre mais aquele que
crê precisa ser capaz de dar razão da sua fé.
A partir do Iluminismo, a
crítica à religião intensificou-se; a história foi marcada também pela presença
de sistemas ateus, nos quais Deus era considerado uma mera projeção da alma
humana, uma ilusão e o produto de uma sociedade já distorcida por tantas
alienações. O século passado conheceu um forte processo de secularismo, em nome
da autonomia absoluta do homem, considerado como medidor e artífice da
realidade, mas empobrecido do seu ser criatura, “à imagem e semelhança de
Deus". Nos nossos tempos, verificou-se um fenômeno particularmente
perigoso para a fé: existe, de fato, uma forma de ateísmo que definimos,
precisamente, “prático”, no qual não se negam a verdade da fé ou os ritos
religiosos, mas simplesmente são considerados irrelevantes para a existência
cotidiana, destacados da vida, inúteis. Muitas vezes, então, acredita-se em
Deus de modo superficial e se vive “como se Deus não existisse” (etsi Deus non
daretur). No final, porém, este modo de viver resulta ainda mais destrutivo,
porque leva à indiferença para com a fé e a questão de Deus.
Obscurecendo a referência a Deus, obscureceu-se também o horizonte ético. Se
Deus perde a centralidade, o homem perde o seu lugar certo, não encontra mais a
sua colocação na criação, nas relações com os outros. A sabedoria antiga evoca
com o mito de Prometeu: o homem acha que pode tornar-se a si mesmo “deus”,
mestre da vida e da morte.
Diante deste quadro, a Igreja, fiel ao mandato de Cristo, não cessa nunca de
afirmar a verdade sobre o homem e sobre o seu destino. O Concílio Vaticano II
afirma sinteticamente: “A maior razão da dignidade do homem consiste em sua
vocação à comunhão com Deus. Desde o nascimento, o homem é convidado ao diálogo
com Deus: não existiria, na verdade, se não fosse criado pelo amor de Deus, por
Ele sempre é conservado por amor, nem vive plenamente segundo a verdade se não
O reconhece livremente e não se confia ao seu criador.” (Cost. Gaudium et spes,
19).
Que respostas, então, é chamada a dar a fé, com “doçura e respeito”, ao
ateísmo, ao ceticismo, à indiferença? Gostaria de resumir para vocês muito
sinteticamente em três palavras: o mundo, o homem, a fé.
A primeira: o mundo. Penso que devemos recuperar e fazer recuperar ao homem de
hoje a capacidade de contemplar a criação, a sua beleza, a sua estrutura. O
mundo não é um magma disforme, mas quanto mais o conhecemos, mais vemos
que tem uma inteligência criadora. Uma primeira via, então, que conduz à
descoberta de Deus é o contemplar com olhos atentos a criação.
A segunda palavra: o homem. Este é um outro aspecto que nós corremos o risco de
perder no mundo barulhento e distraído em que vivemos: a capacidade de parar e
olhar em profundidade para nós mesmos e ler esta sede de infinito que trazemos
dentro, que nos impele a andar além e refere-se a Alguém que possa preenchê-la.
A terceira palavra: a fé. Sobretudo na realidade do nosso tempo, não devemos
esquecer que um caminho que conduz ao conhecimento e ao encontro com Deus é o
caminho da fé. Quem crê está unido a Deus, está aberto à sua graça, à força da
caridade. Assim a sua existência torna-se testemunha não de si mesmo, mas do
Ressuscitado, e a sua fé não tem medo de mostrar-se na vida cotidiana, é aberta
ao diálogo que exprime profunda amizade para o caminho de cada uma, e sabe
abrir luzes de esperança à necessidade de redenção, de felicidade, de futuro.
A fé, de fato, é encontro com
Deus que fala e opera na história e que converte a nossa vida cotidiana,
transformando em nós a mentalidade, juízos de valor, escolhas e ações
concretas. Não é ilusão, fuga da realidade, refúgio confortável,
sentimentalismo, mas é implicação de toda a vida e é anúncio do Evangelho, Boa
Notícia capaz de libertar todos os homens.
Um cristão, uma comunidade
que seja diligente e fiel ao projeto de Deus que nos amou primeiro, constitui
uma via privilegiada para aqueles que estão na indiferença ou na dúvida acerca
da sua existência e da sua ação. Isto, porém, pede a cada um para tornar sempre
mais transparente o próprio testemunho de fé, purificando a própria vida para
que seja conforme Cristo.
Hoje muitos têm compreensão
limitada da fé cristã, porque a identificam como um mero sistema de crença e de
valores e não tanto com a verdade de um Deus revelada na história. Na realidade,
o fundamento de cada doutrina ou valor tem o acontecimento do encontro entre o
homem e Deus em Cristo Jesus. O Cristianismo, antes que uma moral ou uma ética,
é caso de amor, é o acolher a pessoa de Jesus. Por isto, o cristão e a
comunidade cristã devem antes de tudo olhar e fazer olhar para Cristo,
verdadeiro caminho que conduz a Deus. Obrigado.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
O que pode realmente satisfazer o desejo do ser humano?
O caminho de reflexão que estamos fazendo juntos neste Ano da Fé nos
leva a meditar hoje sobre um aspecto fascinante da experiência humana e cristã:
o homem traz consigo um misterioso desejo de Deus. De modo muito significativo,
o Catecismo da Igreja Católica inicia com a seguinte consideração: “O desejo de
Deus está inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e
para Deus; e Deus não cessa de atrair para si o homem e somente em Deus o homem
encontrará a verdade e a felicidade que busca sem parar” (n27).
O desejo humano tende sempre a determinados bens concretos,
frequentemente outros que não o espiritual, e ainda se encontra diante da
interrogação sobre o que realmente é “o” bem, e então a se confrontar com
qualquer coisa fora de si, que o homem não pode construir, mas é chamado a
reconhecer.
Através do amor, o homem e a mulher experimentam de um modo novo a
grandeza e a beleza da vida. Quanto mais autêntico é o amor pelo outro,
mais isso deixa em aberto a interrogação sobre sua origem e seu destino, sobre
a possibilidade que há de durar para sempre. Assim, a experiência humana do
amor tem em si um dinamismo que leva além de si mesma, é experiência de um bem
que leva a sair de si e encontrar-se diante de um mistério que envolve toda a
existência.
Considerações análogas poderiam ser feitas também a propósito de
outras experiências humanas, como a amizade, a experiência do belo, o amor pelo
conhecimento: cada bem experimentado pelo homem conduz em direção ao mistério
que envolve o próprio homem; cada desejo que se aproxima do coração humano se
faz eco de um desejo fundamental que jamais será plenamente satisfeito.
Deste ponto de vista surge o mistério: o homem é um buscador do
Absoluto, um buscador a passos pequenos e incertos. E, todavia, a experiência
do desejo, do “coração inquieto” como o chamava Santo Agostinho, já é
significativa. Isso atesta que o homem é, no fundo, um ser religioso (cfr
Catecismo da Igreja Católica, 28), um “mendigo de Deus”. Podemos dizer com as
palavras de Pascal: “O homem supera infinitamente o homem” (Pensamentos, Ed
Chevalier 438; Ed Brunschvicg 434). Os olhos reconhecem os objetos quando estes
são iluminados pela luz. Daí o desejo de conhecer a mesma luz, que faz brilhar
as coisas do mundo e com essa acende o sentido da beleza.
Devemos, portanto, levar em consideração que é possível também na
nossa época, aparentemente muito refratária à dimensão transcendente, abrir um
caminho em direção ao autêntico sentido religioso da vida, que mostra como o
dom da fé não é absurdo, não é irracional.
Educar desde a infância a saborear as verdadeiras alegrias, em
todos os âmbitos da existência – a família, a amizade, a solidariedade com quem
sofre, a renuncia ao próprio eu para servir ao outro, o amor pelo conhecimento,
pela arte, pela beleza da natureza-, tudo isso significa exercitar o gosto
interior e produzir anticorpos eficazes contra a banalização e o abatimento
hoje difundidos. Os adultos também precisam redescobrir esta alegria, de
desejar realidades autênticas.
Todos, aliás, precisamos percorrer um caminho de purificação e de
cura do desejo. Somos peregrinos em direção à pátria celestial, em direção ao
bem pleno, eterno, que nada jamais nos poderá tirar. Não se trata, portanto, de
sufocar o desejo que está no coração do homem, mas de libertá-lo, para que
possa alcançar a sua verdadeira altura. Quando no desejo se abre a janela em
direção a Deus, isto já é um sinal da presença da fé na alma, fé que é graça de
Deus. Santo Agostinha sempre afirmava: “Com a expectativa, Deus fortalece o
nosso desejo, com o desejo alarga a nossa alma e dilatando-o deixa-o mais
capaz” (Comentário da Primeira cata de João, 4, 6: PL 35, 2009).
Rezemos, neste Ano da fé, para que Deus mostre a sua face a todos aqueles
que o buscam com coração sincero.
Catequese do dia 7 de novembro de 2012 – Fonte: Zenit
É na comunidade eclesial que a fé pessoal cresce e amadurece
Hoje gostaria de dar outro passo em nossa reflexão, começando mais
uma vez, por algumas perguntas: a fé tem um caráter somente pessoal,
individual? Interessa somente a minha pessoa? Vivo a minha fé sozinho? Certo, o
ato de fé é um ato eminentemente pessoal, que vem do íntimo mais profundo e
sinaliza uma troca de direção, uma conversão pessoal: é a minha existência que
recebe uma mudança, uma orientação nova.
Este meu crer não é resultado de uma reflexão minha, solitária, não
é o produto de um pensamento meu, mas é fruto de uma relação, de um diálogo, no
qual tem um escutar, um receber e um responder; é o comunicar com Jesus que me
faz sair do meu “eu” fechado em mim mesmo para abrir-me ao amor de Deus Pai.
Não posso construir a minha fé pessoal em um diálogo privado com
Jesus, porque a fé é doada a mim por Deus através de uma comunidade que crê que
é a Igreja e me insere assim na multidão dos crentes em uma comunhão que não é
somente sociológica, mas enraizada no amor eterno de Deus, que em Si mesmo é
comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é Amor trinitário. A nossa
fé é realmente pessoal, somente se é também comunitária: pode ser a minha fé
somente se vive e se move no “nós” da Igreja, só se a nossa fé é, a fé comum da
única Igreja.
Aos domingos, na Santa Missa, recitando o “Credo”, nós nos
expressamos em primeira pessoa, mas confessamos comunitariamente a única fé da
Igreja. Aquele “credo” pronunciado singularmente nos une àquele de um imenso
coro no tempo e no espaço, no qual cada um contribui, por assim dizer, a uma
harmoniosa polifonia na fé. O Catecismo da Igreja Católicaresume de modo claro assim: “‘Crer’ é um ato
eclesial. A fé da Igreja antecede, gera, sustenta e nutre a nossa fé. A Igreja
é a Mãe de todos os crentes. ‘Ninguém pode dizer que tem Deus como Pai, se não
tem a Igreja como Mãe’ [são Cipriano]” (n. 181). Então, a fé nasce na Igreja,
conduz a essa e vive nessa. Isso é importante recordar.
A Igreja, portanto, desde o início é o lugar da fé, o lugar da
transmissão da fé, o lugar onde, pelo Batismo, se é imersa no Mistério Pascal
da Morte e Ressurreição de Cristo, que nos liberta da escravidão do pecado, nos
doa a liberdade de filhos e nos introduz da comunhão com o Deus Trinitário. Ao
mesmo tempo, somos imersos na comunhão com os outros irmãos e irmãs de fé, com
todo o Corpo de Cristo, retirados do nosso isolamento.
Na liturgia do Batismo, notamos que, na conclusão das promessas em
que expressamos a renúncia ao mal e repetimos “creio” na verdade da fé, o
celebrante declara: “Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja e nós nos
glorificamos de professá-la em Cristo Jesus Nosso Senhor”. A fé é virtude
teologal, doada por Deus, mas transmitida pela Igreja ao longo da história.
Gostaria, por fim, de ressaltar que é na comunidade eclesial que a
fé pessoal cresce e amadurece. A
tendência, hoje difundida, de relegar a fé ao âmbito privado, contradiz então,
a sua própria natureza. Nós precisamos da Igreja para ter a confirmação da
nossa fé e para ter experiência com os dons de Deus: a Sua Palavra, os
Sacramentos, o sustento da graça e o testemunho do amor. Assim, o nosso
"eu" no "nós" da Igreja poderá ser percebido, ao mesmo
tempo, destinatário e protagonista de um evento que o supera: a experiência da
comunhão com Deus, que estabelece a comunhão entre as pessoas. Em um mundo
onde o individualismo parece regular as relações entre as pessoas, tornando-as
sempre mais frágeis, a fé nos chama a ser povo de Deus, a ser Igreja,
portadores do amor e da comunhão de Deus para todo gênero humano.
Catequese do dia 31 de outubro de 2012 – fonte: Zenit
O que significa crer, hoje?
Quarta-feira passada, com o início do Ano da Fé, comecei uma nova
série de catequeses sobre a fé. E hoje gostaria de refletir com vocês sobre uma
questão fundamental: o que é a fé? Ainda há um sentido para a fé em um mundo
cuja ciência e a técnica abriram horizontes até pouco tempo impensáveis? O que
significa crer hoje? De fato, no nosso tempo é necessária uma renovada educação
para a fé, que inclua um conhecimento das suas verdades e dos eventos da
salvação, mas que sobretudo nasça de um verdadeiro encontro com Deus em Jesus
Cristo, de amá-lo, de confiar Nele, de modo que toda a vida seja envolvida.
Nós precisamos não apenas do pão material, precisamos de amor, de
significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que
nos ajude a viver com um senso autêntico também nas crises, na escuridão, nas
dificuldades e nos problemas cotidianos. A fé nos dá exatamente isto: é um
confiante confiar em um “Tu”, que é Deus, o qual me dá uma certeza diferente,
mas não menos sólida daquela que me vem do cálculo exato ou da ciência. A fé
não é um simples consentimento intelectual do homem e da verdade particular
sobre Deus; é um ato com o qual confio livremente em um Deus que é Pai e me
ama; é adesão a um “Tu” que me dá esperança e confiança.
Com o Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, Deus desce até o
fundo na nossa humanidade para trazê-la de volta a Ele, para elevá-la à sua
altura. A fé é crer neste amor de Deus que não diminui diante da maldade do
homem, diante do mal e da morte, mas é capaz de transformar cada forma de
escravidão, dando a possibilidade da salvação.Ter fé, então, é encontrar este
“Tu”, Deus, que me sustenta e me concede a promessa de um amor indestrutível
que não só aspira à eternidade, mas a doa; é confiar-se em Deus como a atitude
de uma criança, que sabe bem que todas as suas dificuldades, todos os seus
problemas estão seguros no “Tu” da mãe. E esta possibilidade de salvação
através da fé é um dom que Deus oferece a todos os homens.
nós podemos crer em Deus porque Ele se aproxima de nós e nos toca,
porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o
Deus vivo. A fé então é primeiramente um dom sobrenatural, um dom de Deus.O
Concílio Vaticano II afirma: “Para que se possa fazer este ato de fé, é necessária
a graça de Deus que previne e socorre, e são necessários os auxílios interiores
do Espírito Santo, o qual mova o coração e o volte a Deus, abra os olhos da
mente, e doe ‘a todos doçura para aceitar e acreditar na verdade’” (Cost. dogm.
Dei Verbum, 5). Na base do nosso caminho de fé tem o Batismo, o sacramento que
nos doa o Espírito Santo, fazendo-nos tornar filhos de Deus em Cristo, e marca
o ingresso na comunidade de fé, na Igreja: não se crê por si próprio, sem a
vinda da graça do Espírito; e não se crê sozinho, mas junto aos irmãos. A
partir do Batismo cada crente é chamado a re-viver e fazer própria esta
confissão de fé, junto aos irmãos.
A fé é dom de Deus, mas é também ato profundamente livre e
humano. O Catecismo da Igreja Católica o diz com clareza: “É impossível
crer sem a graça e os auxílios interiores do Espírito Santo. Não é, portanto,
menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é contrário nem à
liberdade e nem à inteligência do homem” (n. 154). A fé, então, é um
consentimento com o qual a nossa mente e o nosso coração dizem o seu “sim” a
Deus, confessando que Jesus é o Senhor. E este “sim” transforma a vida, abre a
estrada para uma plenitude de significado, a torna nova, rica de alegria e de
esperança confiável.
Catequese do dia 24 de outubro de 2012 – Fonte: Zenit
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