sexta-feira, 30 de março de 2012

O que é celebrar?


O Catecismo da Igreja Católica utiliza e oficializa a terminologia “celebrar” que deriva do adjetivo latino “celeber” e exprime a idéia de um lugar onde uma multidão se reúne para uma festa. Nossas línguas agrupam os sentidos desse termo nos aspectos festivo (exaltar, glorificar) e ritual (realizar um ato importante segundo o rito). A palavra “celebração” indica a liturgia em ato e consiste na representação e atualização no plano local-temporal do Mistério Pascal de Cristo. A celebração cristã é uma festa por meio da qual a comunidade acolhe o acontecimento rememorado e reage a ele participando. A cerimônia é uma ação externa (rito) e um elemento da celebração.
A dimensão festiva das relações entre o ser humano e Deus já se manifestava no Antigo Testamento, em especial nas festas litúrgicas, que marcaram época. Jerusalém era o lugar das grandes festas. Com Jesus eclodem a alegria e a festa. Todo o seu ministério pode ser visto como uma festa para os pobres e necessitados. Essa alegria messiânica de Jesus se expressa posteriormente nos encontros da comunidade primitiva, onde os cristãos dançavam muito. No decorrer dos séculos a festa começou a ser substituída pelo culto marcado pelo cerimonialismo e pela obrigação. Hoje há um retorno progressivo dessa dimensão festiva.
A festa é uma celebração da vida. Celebramos a vida porque cremos que ela é radicalmente boa. A festa é uma celebração no tempo, pois atende à necessidade do ser humano de dar um significado ao passar do tempo. Neste sentido a festa é memorial, presença e profecia. A festa é ainda celebração em comunidade, pois tem um sentido universal. Assim sendo a festa implica em convocação, pertinência e abertura.
Nas festas o ser humano rompe com sua existência comum. Nelas há uma intensa vivência e uma exuberância dos sentimentos. Também caracteriza as festas o sentido comunitário e universal, o sentido de ruptura com o rotineiro e os sentidos extáticos e simbólicos. Na festa se celebra um ser, uma pessoa ou um acontecimento. Ela é celebrada por uma coletividade, num lugar adequado, num tempo determinado, por meio de sinais e símbolos e por um motivo com o qual a comunidade comungue. As festas podem ser classificadas segundo o objeto, o sujeito, o lugar, o tempo e a motivação.
A liturgia é uma festa e a celebração do mistério pascal no tempo e em comunidade. A celebração é uma Epifania, ou seja, uma manifestação do divino na ação ritual, que confere um caráter de atualidade e de incidência na vida e no tempo dos homens. A celebração também torna possível a comunicação do mistério com o ser humano e o acesso e a participação deste no mistério. A celebração litúrgica, sobretudo a eucarística, pela palavra e pelo rito, assegura a presença do acontecimento, do mistério celebrado. Ou seja, celebramos o acontecimento narrando o ocorrido e renovando o rito que o torna presente. Em suma, o acontecimento é atualizado.
Os grandes protagonistas da festa e de sua celebração são Deus, em seu mistério trinitário, e os seres humanos, constituídos povo sacerdotal. O Vaticano II define liturgia como uma “ação”, uma “obra” de santificação do ser humano e glorificação de Deus. Medellín apresenta a liturgia na perspectiva de uma Igreja peregrina marcada pela tensão entre “o já e o ainda não”. Puebla define como uma celebração da Páscoa do Senhor discernida na vida dos homens. A liturgia, na verdade, não é o cumprimento de um rito, ela postula uma comunhão profunda com Deus, com os homens e com toda a criação.
O melhor conceito é o de liturgia-festa, pois, ajuda a superar a dicotomia sagrado-profano, rito-vida. A liturgia-festa assume a realidade eclesial, comunitária e, além disso, integra com eficácia a ação santificadora de Deus e a glorificação que o ser humano lhe tributa. A ação de Deus provoca a festa. A festa no coração do ser humano liberta para a ação e o compromisso. O ser humano em ação a favor do bem é a festa de Deus.

Referência:
CELAM. Manual de liturgia. São Paulo: Paulus, 2003. Vol. I. p. 63-82.

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