sábado, 23 de dezembro de 2017

Carta de Despedida de Nazaré Paulista


Estou deixando a Paróquia Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Nazaré Paulista muito contente com o trabalho que realizei ao longo de 4 anos e 4 meses como padre desta porção do Povo de Deus.
O motivo da minha renúncia, porém foi a grande decepção que tive com o povo dessa cidade.
Desde o primeiro dia em que cheguei aqui, 11 de setembro de 2013, procurei dar o melhor de mim, a cada dia, para o bem dessa comunidade paroquial. Cada palavra, cada gesto, cada orientação, cada “sim”, cada “não”, etc. sempre foi pensando no melhor para esse povo e nunca (Deus sabe disso) visando o meu bem.
Toda essa dedicação rendeu bons frutos como a formação do grupo de coroinhas e acólitos, nunca antes na história desta paróquia houve um padre que se preocupou tanto com a evangelização das crianças e adolescentes; dando a eles oportunidade de servir a Deus.
Lembro também do bonito trabalho junto à juventude como a criação do Grupo de Oração Maria de Nazaré, conduzindo, sobretudo, por jovens e a formação da Pastoral da Juventude JUMBEC, que, através da Educafro, cuida da educação e da inclusão dos nossos jovens no mundo universitário, entre tantas outras ações que essa linda juventude realiza pelo bem da comunidade.
Com a minha chegada a Nazaré houve um considerável aumento na colaboração dos dizimistas, o que nos proporcionou significativas melhorias na estrutura paroquial, como o acabamento da Casa Betânia, que até então não era usada, a troca do sistema de som da igreja, a restauração do relógio da torre, a troca do sistema elétrico do Salão Paroquial, a troca do carro da paróquia, etc.
Sempre me preocupei com a formação catequética, litúrgica e doutrinal dos meus paroquianos por isso ministrei bons momentos formativos na matriz e nas comunidades para as equipes de liturgia, de músicos, de coroinhas, de acólitos, de ministros, de catequistas, de leitores, etc.
Organizamos a catequese com a eleição de uma coordenadora. Adequamos o calendário das atividades de acordo com o calendário litúrgico deixando a Primeira Eucaristia na Páscoa e a Crisma mais próxima da festa de Pentecostes. Além de dar a oportunidade dos adultos receberem os sacramentos da iniciação cristã, por meio da Catequese de Adultos.
A espiritualidade não ficou de lado. De forma singela, sempre preparei bem as homilias e as celebrações litúrgicas, como as novenas. Ao contrario do que dizem, sempre respeitei as tradições religiosas dessa cidade. Aprendi a gostar da Festa do Divino ao ver a bonita manifestação de fé desse povo, apesar de nunca entender a realização de uma alvorada à noite (WTF !!!???).
Quem não come pastel, não vai pro céu” esse slogan realmente caiu na boca do povo a partir do momento em que eu tirei as teias de aranhas da cantina, que estava a muito tempo fechada e a coloquei para funcionar semanalmente.
Na medida do possível sempre atendi bem as comunidades da paróquia nunca faltando às missas e instituindo novos coordenadores por meio de eleição bianual. A confraternização após as missas foi importante para a aproximação do padre com o seu povo, mesmo que isso tenha me custado a fama de comilão.
Também devo reconhecer alguns fracassos que tive ao longo do caminho, como a tentativa frustrada de implantar a Pastoral Familiar e muitos desentendimentos com algumas pessoas devido incompreensões de ambas as partes e também pela minha falta de experiência sacerdotal e administrativa.
Ainda sou uma pessoa muito tímida e isso me impediu de fazer mais amizades e de me aproximar da vida cotidiana dos meus paroquianos. Até hoje alguns me consideram antipático e “com cara de poucos amigos”. Foram poucos os que entenderam que “quem vê cara, não vê coração” e descobriram em mim uma pessoa calma, correta e até brincalhona.
A cada manhã eu levantava procurando dar o melhor de mim para o bem desta comunidade e o que eu recebi em troca foram poucos apoios e muitas incompreensões e críticas. Tudo isso me levou a muita reflexão e oração que culminou no pedido de renúncia da paróquia junto ao bispo diocesano.
Desde o começo desse ano de 2017 fui percebendo que todo o meu esforço para fazer o melhor para essa paróquia estava sendo em vão. A minha decepção com esse povo surgiu quando percebi que era criticado exatamente naquilo que eu fazia de melhor para essa comunidade, como a nova casa paroquial e a criação da paróquia Santa Rita.
Como dizem: “o povo daqui é assim mesmo”, ou seja, eles não mudarão, mas eu posso mudar. Cansei de “dar murros em ponta de faca” quero seguir minha vocação em outro lugar. Existe mais de 60 outras paróquias em nossa Diocese onde o povo vai acolher o meu trabalho e não vai ficar falando tão mal de mim pelas costas como o povo daqui. “O padre ferido pela língua do seu povo” esse é o resumo do meu ano de 2017.
Espero que vocês reconheçam que a forma como o povo dessa cidade acolhe o padre deve ser mudada. O povo precisa caminhar mais junto com o seu pastor. E não ficar só olhando de fora e “metendo a boca” no coitado que quer fazer um bom trabalho.
Resumindo, e que isso fique muito claro: eu sou só mais um padre que vai embora por causa desse povo. Eu sei que sou um bom padre e quero uma nova oportunidade em outra paróquia para mostrar isso. Outros padres que também foram embora daqui decepcionados com esse povo, hoje são excelentes sacerdotes e desempenham um bom trabalho em suas paróquias. Pretendo seguir o exemplo deles e comprovar que o problema não está em mim.
Desculpe essa minha sinceridade. Sei que o povo de Nazaré vai fazer questão de não entender nada do que eu disse, distorcer e ainda usar essas minhas palavras contra a minha pessoa (o povo daqui é assim mesmo). Mas faço questão de deixar essas palavras registradas para que o tempo comprove quem está com a razão.
Espero que as boas sementes que aqui plantei dêem bons frutos e que “os lobos em pele de cordeiro” morram de fome.
Acredito que tenho a capacidade de resiliência e pretendo tirar grandes lições dessas experiências ruins que tive com o povo de Nazaré. Tudo isso não me fez desanimar no ministério, muito pelo contrário, vou sair daqui mais fortalecido e com grandes esperanças de ser um bom padre no futuro, que começa a partir de agora nos primeiros dias de 2018.

Padre Marcio Canteli

Nazaré Paulista, dezembro de 2017.

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