O Dom do
Pai em Cristo
Do Tratado Sobre a Trindade, de Santo Hilário, bispo -
(Séc. IV)
O Senhor mandou batizar em nome do
Pai e do Filho e do Espírito Santo, quer dizer, professando a fé no Criador, no
Filho e no que é chamado Dom de Deus.
Um só é o Criador de todas as
coisas. Pois um só é Deus Pai, de quem tudo procede; um só é o Filho Unigênito,
nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo foi feito; e um só é o Espírito, que
foi dado a todos nós.
Todas as coisas são ordenadas
segundo suas capacidades e méritos: um só é o Poder, do qual tudo procede; um
só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança
perfeita. Nada falta a tão grande perfeição. Tudo é perfeitíssimo na Trindade,
Pai, Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a
atividade no Dom.
Escutemos o que diz a palavra do
Senhor sobre a ação do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a
dizer-vos,mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo
16,12), É bom para vós que eu parta: se eu me for, vos mandarei o
Defensor (cf. Jo 16,7).
Em outro lugar: Eu rogarei
ao Pai, e ele vos dará uni outro Defensor, para que permaneça sempre convosco:
o Espírito da Verdade (Jo 14,16-17). Ele vos conduzirá à plena
verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e
até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará porque receberá do que
é meu (Jo 16,13-14).
Estas palavras, entre muitas outras,
foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a
natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que a nossa fraqueza
não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo
estabelece certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas
dificuldades relativas à encarnação de Deus.
Assim, o Espírito Santo é recebido
para nos tornar capazes de compreender. Como o corpo natural do homem
permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessários para as suas
funções - os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos,
caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente
nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural por
falta de estímulo para agir - assim é a alma humana: se não recebe pela fé o
Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas
falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento.
Este Dom de Cristo está inteiramente
à disposição de todos e encontra-se em toda parte; mas é dado na medida do
desejo e dos méritos de cada um. Ele está conosco até o fim do mundo; ele é o
consolador no tempo da nossa espera; ele, pela atividade dos seus dons, é o
penhor da nossa esperança futura; ele é a luz do nosso espírito; ele é o
esplendor das nossas almas.
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