quarta-feira, 24 de abril de 2013

As causas do abandono da Fé e da Igreja Católica, por Dom Odilo Pedro Cardeal Scherer


Os motivos do abandono da fé católica, no entanto, devem ser examinados por nós, levando-nos às decisões que nos cabem tomar, com o coração movido pela caridade pastoral, por amor às pessoas, respeito e amor à verdade

A causa do abandono da fé católica pode ser o conhecimento insuficiente ou apenas superficial da fé e da própria Igreja Católica. Muitas pessoas nunca foram verdadeiramente evangelizadas, nem tiveram a oportunidade de fazer uma experiência genuína e gratificante da fé em Deus na nossa Igreja. Não se ama o que não se conhece. E, não havendo raízes profundas nem identificação pessoal sólida com a fé e a Igreja Católica, o abandono acontece com facilidade.

O que devemos fazer nesses casos? Certamente, é preciso evangelizar mais e melhor, dando aos fiéis a oportunidade de conhecerem melhor a Deus e a Igreja, e de fazerem a experiência gratificante e profunda da fé. Devemos propor a verdade integral do Evangelho, sem poupar esforços para convidar as pessoas a fazerem um caminho de crescimento e amadurecimento na fé.

Acontece também que as pessoas abandonam a fé católica e a Igreja porque ficam decepcionadas com o nosso atendimento, nem sempre acolhedor. Isso nos deve levar, evidentemente, a rever nossos modos de tratar as pessoas. Ninguém espera ser tratado mal, ainda mais por quem representa a Igreja e fala em nome de Deus. E isso vale para nossos atos oficiais, como as celebrações, mas também para as relações pessoais dos católicos.

Entre as causas do abandono da fé e da Igreja Católica também está a discordância com a nossa doutrina moral ou mesmo com artigos da nossa fé. Nesse caso, por certo, não devemos renunciar à nossa fé, nem ocultar as exigências morais que decorrem do Evangelho. Mas, devemos cuidar de não transformar a fé em moralismo superficial, nem deixar de propor o encontro vital com Deus por meio de Jesus Cristo, antes de tratar das exigências morais do Evangelho. O resto será obra da graça de Deus, que conta com o diálogo paciente e respeitoso, o testemunho pessoal de vida cristã e o desejo sincero de ganhar irmãos para Cristo, para que tenham, por ele, a vida verdadeira.

Há também o fato da pregação contrária à Igreja Católica e sua doutrina, que leva muitos irmãos ao engano, ao abandono da fé e ao desprezo da Igreja. Nesse caso, cabe-nos defender as ovelhas do nosso rebanho e vigiar, mostrando-lhes a verdade e esclarecendo os aspectos em que sua fé e seu amor à Igreja são abalados.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Veste clerical, um sinal


Da mesma forma de que o jaleco branco identifica o médico e a farda identifica o militar, o traje clerical identifica os clérigos, ou seja, aqueles que receberam o sacramento da Ordem (diáconos, padres e bispos).
O traje clerical é um sinal de consagração sacerdotal ao Senhor e pode ser a tradicional batina preta ou calça e camisa com colarinho romano ou “clergyman”. É utilizado pelos clérigos diocesanos e pelos religiosos que não possuem hábito próprio, como os jesuítas e os salesianos.
O Código de Direito Canônico (Cân 284) não obriga o uso do traje clerical, mas recomenda. A Igreja no Brasil diz que o traje eclesiástico deve ser digno e simples.
O colarinho clerical é uma invenção bastante moderna. Foi desenvolvido para ser usado no trabalho cotidiano do ministro (mais prático que a batina). Hoje é usado por pastores nas diversas denominações Cristãs como presbiteriana, luterana, metodista, pentecostais e, também, por ministros Cristãos não denominacionais. Os católicos romanos passaram a usá-lo a partir do Concilio Vaticano II, em substituição a batina.
O colarinho clerical simboliza que quem o usa é um servo. As pessoas que o usam servem como Ministros de sua Palavra. Toda a igreja tem compromisso com o testemunho de Cristo no mundo, no entanto, o pastor compromete-se de modo específico com o Ministério da Palavra. Assim, o colarinho clerical simboliza esse compromisso pastoral com o anúncio do Evangelho. O colarinho branco sobre fundo preto envolvendo a garganta é simbólico da Palavra de Deus proclamada.
O uso de símbolos é um sinal e um testemunho vivo de Deus no mundo secularizado. Pois uma das características do movimento de secularização o desprezo por sinais e símbolos religiosos. Para as pessoas o fato de ver um ministro com o colarinho clerical já é um testemunho de fé.
Um padre em um colarinho romano é uma inspiração para outros, pois estes concluem: “Aqui esta um discípulo moderno de Jesus.”


quarta-feira, 3 de abril de 2013

O que é Páscoa?


Páscoa é uma palavra vinda do hebraico e significa “passagem”. A Páscoa cristã nasceu da Páscoa judaica, que tem suas raízes numa festa ligada aos pastores. Para eles páscoa era a passagem de uma pastagem a outra e nesta ocasião imolavam cordeiros à divindade.
Os hebreus adotaram essa festa antiga e a transformaram na grande festa que marca sua saída da escravidão no Egito, passando o Mar Vermelho a pé enxuto rumo à terra da liberdade e da vida.  O ritual da Páscoa judaica é apresentado no livro do Êxodo, capítulo 12. Páscoa significa, portanto, já no Antigo Testamento, passagem da escravidão à liberdade, da morte à vida.
A festa da Páscoa passou a ser uma festa cristã após a última ceia de Jesus com os apóstolos, na Quinta-feira santa (Mt 26, 17-20). Ao celebrar a Páscoa judaica Jesus inaugurou a própria páscoa, ou seja, sua passagem deste mundo para o Pai.
A páscoa de Jesus consta de três momentos: a celebração ritual (última ceia), com um sentido novo ligado à sua paixão e à memória que seus apóstolos deverão fazer; a morte na cruz, onde Jesus se faz o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo e a ressurreição, verdadeira e extraordinária passagem da morte para a vida.
Jesus venceu a morte e abriu as portas da eternidade para todos nós (I Cor 15, 20), ou seja, Ele abriu-nos a passagem para a vida eterna. Reza o prefacio da páscoa I, que, Cristo, morrendo, destruiu a morte e, ressurgindo, garantiu-nos a vida em plenitude. Com isso, a ressurreição de Jesus é garantia da nossa ressurreição. “Cremos firmemente – e assim esperamos – que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado” (CIC 989).
Desde os primeiros tempos a Igreja celebra a Páscoa como comemoração da passagem de Cristo desta vida terrena para a vida da glória, através da sua paixão, morte e ressurreição. Para nós a Páscoa é a nossa definitiva passagem do mundo do pecado e da escravidão para uma vida de justiça e de amor, isto é, de libertação da escravidão do mal para a vida de filhos de Deus.
Portanto, que nesta Páscoa passemos a viver uma vida nova em Cristo Jesus. Essa renovação devemos buscar continuamente até realizarmos um dia a nossa passagem definitiva desta vida para a outra vida, a eterna.
Diácono Marcio Canteli, Páscoa 2013

Papa Francisco: Do fim do mundo para o cerne do Evangelho, por Afonso M.L.Soares



Os dias que antecederam ao conclave foram de perplexidade no mundo católico e de uma curiosidade por vezes mórbida por parte de expectadores outsiders. Os palpites espalhados pelos meios de comunicação internacionais revelaram-se equivocados. Parece que todos nos esquecemos da antiga e famosa repreensão de Dante Alighieri: "Quem és tu que queres julgar, com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?". Ninguém acertou e, mais uma vez, o Vento soprou onde quis (Jo 3).

Havia, porém, quem acalentasse o sonho de ver no Vaticano alguém próximo do que fora João XXIII ou do que poderia ter sido João Paulo I, que nos encantara durante 33 dias. De certo, porém, só tínhamos a convicção de que deveria ser alguém de perfil conservador, de sólida doutrina e moral irrepreensível. Também parecia provável que os cardeais eleitores teriam em mente a necessidade de escolher uma pessoa com potencial para ser um líder espiritual e com disposição para aprofundar a necessária reforma na cúria romana que Bento XVI tentara encaminhar.

Finalmente, no último dia 13 de março, católicos do mundo inteiro foram dormir exultantes e esperançosos. De repente, as terríveis notícias que nos assombraram nos últimos meses caíram ao segundo plano. Jorge Mario cardeal Bergoglio deixava a metrópole de Buenos Aires para entrar para a história como o 266º Papa da Igreja Católica, o 1º não europeu em 1200 anos, o 1º oriundo da América Latina e o único jesuíta escolhido para o cargo até então. Homem simples, soube-se depois, estava habituado a viver sem pompas, em meio aos pobres.

Mas não pararam aí as surpresas que o Sumo Pontífice reservava a todos, inclusive aos não católicos. Bastaram poucos minutos de contato com a multidão que lotava a Praça São Pedro, e com os bilhões que acompanhavam o evento pela mídia, para que este padre, conservador na doutrina e desconcertante no testemunho de pobreza e humildade, encantasse-nos com seu sorriso simples e a ternura de quem é experiente no cuidado pastoral. A começar pelo nome escolhido: Francisco, o Poverello de Assis, exemplo de uma santidade radical que se espalhou pela Europa no início do século XIII. Bastou a escolha do nome, inédita entre papas, para sintetizar um programa de ação que, seguramente, será mais pastoral, mais espiritual e mais insistente na prática da charitas cristã.

O primeiro gesto do Pontífice eleito também não poderia ser mais emblemático: curvando-se diante do Povo de Deus, pediu que o abençoassem antes que ele lhes pudesse dar sua primeira bênção papal. Foi emocionante, generoso, profético. Papa Francisco, diga-se logo, não se apresenta como mera alternativa a Bento XVI. Sua missão é mais a de intensificar um trabalho que seu antecessor não teve forças e saúde para levar adiante. Bento XVI preferiu renunciar, corajosa e humildemente, passou o cajado.

E o cajado, agora, pertence a Francisco, o papa que veio, segundo suas próprias palavras, do fim do mundo. Mas que também já começa a deixar sua marca como novo líder espiritual católico. Sua missão é recolocar corações e estruturas desta Igreja voltados para o cerne do Evangelho. E nós, Povo de Deus peregrino nesta terra, queremos estar a seu lado nesse projeto, exatamente nesta posição: atrás das pegadas deixadas por Jesus de Nazaré.
Afonso M. L. Soares
Livre docente em Teologia pela PUC-SP.