O último capítulo da Lumen Gentium contempla a
Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, “como modelo de cristã e membro mais belo da Igreja”. O Concilio quis dedicar-lhe
este texto para expressar o significado que Maria tem no mistério de Cristo
está relacionado com o amor do Pai, a missão do Filho, o dom do Espírito Santo,
a mulher da qual nasceu o Redentor e a nossa filiação divina.
Para realizar a
redenção do mundo, “Deus enviou o seu Filho” (Gal 4,4) e, para “formar-lhe um
corpo” (Cf Hb 10,5) quis a livre cooperação de uma mulher, “para lembrar a toda humanidade que Deus assim nos fez, homem e
mulher, semelhante a Deus, iguais em dignidade e co-autores…(Genesis, 1,27), e
através do ventre materno de uma virgem”… para que recebêssemos a
adoção de filhos” (Gál 4,5); Ele que, por amor de nós homens e para nossa
salvação, desceu dos céus e se encarnou por obra do Espírito Santo no seio da
Virgem Maria. Este mistério da salvação nos é revelado e continuado (continua a
ser revelado a toda sua Igreja) na Igreja. Unidos a Cristo como cabeça, e em
comunhão com todos os Seus santos, os fiéis devem também venerar a memória da
Virgem Maria, Mãe de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo” (LG 52).
Reconhecida
e honrada como Mãe de Deus e do Redentor que se fez irmão de todos, Maria
se torna também, por adoção, Nossa Mãe. A Sua santidade, enriquecida desde o
primeiro instante de sua concepção, e a Sua dignidade de Mãe do Filho de Deus,
vem inteiramente dos méritos de Cristo. Mais do que qualquer outra pessoa, o
Pai a abençoou e a “escolheu nele (Cristo), para ser santa e imaculada em sua
presença, no amor” (Ef 1,3-4).
Ela é, portanto, a filha
predileta de Deus Pai e sacrário vivo do Espírito Santo, e ultrapassade longe,
com este dom de graça sem igual, todas as criaturas celestes e terrestres.
Segundo Santo Agostinho, ‘com seu imenso amor ela colaborou para que na Igreja
nascessem os fiéis, que são membros do Corpo do qual a cabeça é Cristo’. Ela é
também saudada como membro que está acima de todos e de modo único na Igreja,
além de ser considerada como o modelo da fé e da caridade. Por isso, a Igreja
Católica a honra como Mãe, dedicando-lhe, um afeto de piedade filial (LG53).
A honra
que a Igreja sugere não deve ser confundido com ‘latria’ que é reservado
somente a Deus. A veneração aos santos é chamado de “dulia”, e à Virgem Maria
de ‘hiperdulia’. Os cristãos, pois, não cultuam imagens, e segundo São
Basílio, “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original” e quem
venera uma imagem venera a pessoa que nela está pintada. A honra prestada às
imagens é uma “veneração respeitosa”, e não adoração, que só compete a Deus (CIC
2132).
O
Concílio não teve a intenção de propor uma doutrina completa sobre Maria, mas
quis esclarecer, cuidadosamente, tanto a função da Santíssima Virgem no
mistério do Verbo Encarnado e do Corpo Místico, quanto os deveres dos próprios
homens para com a Mãe de Deus, que é Mãe de Cristo e, especialmente dos fiéis
(LG 54).
A Mãe do Messias
aparece profeticamente nos escritos do Antigo Testamento, esboçada
primeiramente na promessa da vitória sobre a serpente (Gn 3,15) e depois como a
Virgem que há de conceber e dar à luz um filho cujo nome será Emanuel (Is 7,14;
Mq 5,2-3). Na Anunciação, quis o Pai de misericórdia que a Encarnação fosse
precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada, a fim de que, assim como
a mulher tinha contribuído para a morte, também a mulher contribuísse para a
vida. Ela que ‘em certo sentido, tornou-se a primeira discípula do seu Filho, a
primeira a quem Ele parecia dizer: “Segue-me” (RM 20).
‘O papel de Maria para
com a Igreja é inseparável de sua união com Cristo’ (CIC 964). A união da Mãe
com o Filho, na obra da redenção, manifesta-se desde o momento da concepção
virginal até sua morte e, podemos afirmar isso seguindo os passos de Maria da
anunciação à sua visita a Isabel quando entoou seu canto de louvor (Lc
1,46-55), passando pelo nascimento, pela infância e pela participação na vida
pública de Jesus até aos pés da cruz, (LG 57), ‘ela que na peregrinação da fé
foi até a “noite da fé, comungando com o sofrimento de seu Filho e com a noite
de seu túmulo” (Rm 17-18).
No ministério público de
Jesus a manifestação de Maria aparece claramente desde o início, quando nas
bodas de Caná obteve, por sua intercessão, que Ele realizasse o seu primeiro
milagre. ‘Ela põe-se entre o seu Filho e os homens na realidade de suas
privações, das suas diligências e dos seus sofrimentos. Torna-se mediadora,
intercessora, não como uma estranha, mas como mãe, além de ser porta-voz da
vontade do seu Filho, como quem indica as exigências que devem ser satisfeitas’
(RM 21).
Manteve-se sempre ao Seu
lado, até a Sua morte, sofrendo com Ele e associando-se ao Seu sacrifício. E
depois se manteve junto aos Apóstolos, implorando com eles, em preces, os dons
do Espírito Santo que nela já habitava desde a concepção. Preservada de toda a
mancha do pecado original, terminando o curso de sua vida terrestre, foi levada
à glória celeste em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo
(LG 58).
A função maternal de Maria para com a humanidade a
torna dotada de uma mediação especial que de modo nenhum obscurece ou diminui a
intercessão única de Cristo, mas que antes mostra qual é a sua eficácia, pois
elacontinuamente intercede por todos nós junto a seu Filho, mediador por
excelência junto a Deus Pai. (LG 60-61)
Maria ainda é
apresentada como figura da Igreja pelo dom e carga da maternidade divina, e
cujas virtudes a Igreja deve imitar. Exaltada pela graça de Deus acima de todos
os Anjos e de todos os homens, logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe
Santíssima de Deus, Maria recebe da Igreja a honra com culto especial nas
festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus e na oração mariana, tal como o Santo
Rosário, resumo de todo evangelho (CIC 971). As várias formas de devoção,
lembram os fiéis que ao se honrar a Mãe, seja bem conhecido, amado e
glorificado o Filho e bem observados os mandamentos daquele “pelo qual existem
todas as coisas” (LG 66).
O
Concílio não só ensina, como exorta os fiéis a promoverem dignamente o culto à
Virgem Santíssima cujo tema dever ser tratado com abertura religiosa, evitando
induzir em erro os irmãos separados ou quaisquer outras pessoas, quanto à
doutrina da Igreja Católica.
Ao finalizar, a LG aponta
Maria como sinal de esperança certa e de consolação para o Povo de Deus
peregrino, exortando a todos para dirigirem súplicas incessantes à Mãe de Deus
e Mãe dos homens. Ela, que assistiu com orações desde o início, o alvorecer da
Igreja, também agora, possa interceder junto a seu Filho para que todas as
famílias dos povos se reúnam em concórdia no único Povo de Deus, para a Glória
da Santíssima e Indivisível Trindade (LG 68-69).
Na exortação Apostólica Marialis Cultus,
1974, o papa Paulo VI desejou, em consonância com o Vaticano II e especialmente
com a LG, definir a forma do culto à Virgem Maria na Liturgia. Em 1987 o
papa João Paulo II publicou uma Encíclica dedicada a Ela denominada Redemptoris Mater na
qual destacava o lugar de Maria na obra da Salvação e confirmou o título, Mãe
da Igreja, proclamada pelo Papa Paulo VI, no Concílio Vaticano II, em 21 de
novembro de 1964 e em 2002, no 25° ano de seu pontificado, publicou
a Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae,
uma carta dedicada especialmente ao Santo Rosário, convocando a Igreja para que
o ano entre outubro de 2002 a outubro de 2003, fosse consagrado ao
Rosário. Nesta carta, o papa, também, propôs alterações no Rosário,
acrescentando os Mistérios Luminosos, que refletem sobre a revelação do Reino
de Deus já personificado em Jesus.
Fonte: AVF
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