Muito
já se ouviu dizer sobre os dons e
as virtudes,
mas nem por isso se pode afirmar que as pessoas entendem, de fato, o que
eles significam para a sua vida. Parece algo distante, reservado somente
para alguns poucos privilegiados, os que tiveram a sorte de ser beneficiado
por uma dádiva de Deus, como se dons e virtudes fossem prêmios concedidos
por uma espécie de uma loteria divina. Já ouvi muita gente dizer que não
tem nenhum dom e que desconhece suas próprias virtudes. Afirmar coisas
deste tipo nem sempre significa humildade, mas, sim, desconhecimento do seu
verdadeiro significado. É disso que vou falar neste pequeno texto, buscando
mostrar como os dons e as virtudes fazem parte da nossa vida e como podemos
usufruir dessas qualidades divinas concedidas a nós, humanos, tornando-nos,
assim, mais próximos de Deus.
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OS DONS
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1) Sabedoria: sabedoria
não é apenas a soma de conhecimentos, mas, sim, de como procedemos para
adquirir conhecimento. É algo a ser exercitado, aprendido porque ninguém
nasce sábio, mas se torna sábio. Segundo a Bíblia, a sabedoria vem de Deus
(cf. Is 11, 1-22) e nos é dada como um dom, uma pedra preciosa a ser
lapidada ao longo da nossa vida. À medida que vamos lapidando essa pedra
preciosa devemos colocá-la em prática e, assim, ir transformando o mundo em
que vivemos, fazendo dele uma sociedade alicerçada na justiça porque a
justiça é fruto da sabedoria. É sábio aquele que pratica a justiça porque a
justiça defende a vida e a vida é o bem supremo, a maior preciosidade.
Sabedoria e justiça são conceitos inseparáveis. José era um homem sábio
porque era justo (Mt 1, 19). Salomão era justo porque era sábio (1Rs 3,
5-14). Quem promove a justiça promove a vida e quem promove a vida dá
provas de sua sabedoria. Quem é sábio, diz Isaias (11, 3) não julga as
coisas pela aparência, nem dará a sentença só por ouvir. Quem age desta
forma não age com sabedoria. Quem é sábio julga os fracos com justiça, dá
sentenças retas aos pobres, defende os indefesos contra os violentos. Quem
é sábio faz da justiça a correia que cinge a sua cintura, isto é, está sempre
a serviço da justiça, sendo fiel a ela em quaisquer circunstâncias. O sábio
sabe que a justiça é o meio mais eficaz para implantar a paz e a harmonia
sobre a terra, mesmo que isso possa parecer algo que não lhe traga
benefício pessoal. Todo aquele que cultiva a sabedoria no jardim de sua
vida, colhe como resultado a felicidade. Sabedoria é, portanto, à busca da
felicidade e para se obter felicidade é preciso o dom do entendimento.
2) Entendimento: Somos
chamados à perfeição. O entendimento é um dos sete dons que recebemos no
processo de completude dessa perfeição. O dom do entendimento, também
chamado "dom da inteligência" ou "dom do
discernimento", tem estreita relação com o dom da sabedoria. É ele
quem nos proporciona uma compreensão mais profunda das coisas, além daquilo
que elas revelam na sua aparência. Com o dom do entendimento podemos
compreender as verdades reveladas, contudo, sem desvendar os seus
mistérios, pois são os mistérios que tornam as coisas encantadas. Através
do dom do entendimento, conhecemos as coisas, os outros e passamos a nos
conhecer mais profundamente e, assim, reconhecemos a profundidade de nossas
limitações e misérias, o que nos faz mais humildes e nos ensina a curvar
diante do mistério insondável de Deus e de toda a sua criação. Nos ensina a
relacionar melhor com os outros porque entendemos que não somos melhores
que ninguém, apenas somos diferentes uns dos outros. Entendemos que as
diferenças são necessárias, pois elas significam diversidade e as
diversidades são fundamentais para a vida. É a nossa faculdade de avaliar
os seres e as coisas, podendo assim, julgá-las da forma mais precisa e mais
próxima da verdade. Com o entendimento podemos emitir juízos de valor,
formular nossas opiniões e chegar a um consenso sobre determinada coisa. O
entendimento das coisas nunca chega a um fim. Se elas mudam e se recriam
constantemente, não é possível que a entendamos por completo. Isso exige
que o nosso entendimento seja, igualmente, algo em constante mutação. Dizer
que conhecemos as coisas na sua totalidade é a prova mais cabal do nosso
desconhecimento ou da nossa ignorância. O entendimento é um dom do Espírito
Santo dado a nós para entender, espiritualmente, os sinais da presença de
Deus nas relações humanas e em todos os seus desdobramentos. Encontramos,
na Bíblia, tanto no antigo como no Novo Testamento, referências ao entendimento enquanto
dom do Espírito, junto com os demais dons, como, por exemplo, em Isaías
(11, 1-5), na primeira Carta de Paulo aos Coríntios (12, 4-11) e na Carta
aos Romanos (12, 6-8). Em todos esses casos o entendimento aparece
vinculado ao dom da sabedoria e, às vezes, com outras nomenclaturas, como discernimento, ensino, inteligência, entre
outras. Este dom nos leva a entender e a compreender as verdades da salvação,
reveladas nas Sagradas Escrituras e nos ensinamentos da Igreja e, a partir
disso, melhorar nossos relacionamentos, sendo mais amigo, mais solidário,
agindo com mais gratuidade e menos interesse, enfim, promovendo a paz e a
concórdia entre todos. Quando entendemos os propósitos dos mistérios de
Deus e o colocamos em prática, mudamos radicalmente nossa maneira de ser e
de agir. Todos perceberão que o dom do entendimento é parte integrante de
nosso ser, pois é ele que nos concede discernir a realidade e tomar
decisões acertadas. Enfim, o dom do entendimento significa não apenas o uso
da razão, mas a ciência do coração que ajuda a contrabalançar nossas
atitudes e decisões, fazendo com que elas sejam tão humanas que tenha algo
de divino. Entender significa ver com o olhar do coração, porém, passando
pelo filtro da razão. É sentir e conhecer os sentimentos e as atitudes da
mente e do coração das outras pessoas. Aprendemos a tirar uma lição de tudo
o que acontece na nossa vida e ajudamos os outros a fazerem o mesmo. Quando
agimos assim, estamos também exercitando um outro dom, o conselho.
3) Conselho: O
dom conselho não significa apenas o dom de dar ou receber conselhos, mas,
sobretudo, o dom de saber discernir caminhos, saber orientar e escutar,
animar a si e os outros, enfim, saber alentar a fé e esperança. É o dom de
orientar e ajudar quem precisa. Fazemos isso quando dialogamos
fraternalmente com os outros. Quando ajudamos os outros a encontrar as
melhores soluções para os seus problemas. Quando a nossa conversa franca e
sincera aponta luzes na escuridão das incertezas de nossos semelhantes.
Quando animamos os abatidos, alegramos os tristes, ajudamos a recobrar o
ânimo dos que estão desanimados. Enfim, quando ajudamos a transfigurar uma
série de situações que necessitam de mudanças. Quem nunca deparou em sua
vida com alguma situação difícil, de dúvidas e incertezas, de desânimo e
falta de perspectiva? Nesses momentos deve entrar em ação o dom do conselho
cuja função é recobrar o ânimo, anunciando a esperança. É uma espécie de
dom profético que, recebido no batismo, nos faz participantes da missão
profética de Cristo. O dom do conselho, também conhecido como dom da
prudência, nos faz discernir corretamente o que convém dizer e o que convém
fazer nas diversas circunstâncias da vida, conformando-a de acordo com o
que Deus quer de nós. Ele nos orienta no processo de santificação porque
nos ajuda a buscar sempre as coisas de Deus, agindo com cautela e segurança
em todas as circunstâncias. É, na verdade, aquele dom que deveríamos usar
em todo momento porque em todo momento temos que tomar decisões. Tudo o que
fazemos na vida é resultado de decisões. Ele nos faz saber com segurança o
que convém e o que não convém dizer, fazer ou mesmo pensar, nas diversas
circunstâncias da vida. Pessoas que agem guiadas por esse dom tendem a
acertar nas suas decisões porque ele é o dom que nos dá confiança nas
nossas ações e dissipam os medos. Ele nos orienta a confiar mais em Deus e
em nós mesmos e agir com serenidade. Enfim, o dom do conselho é um dom
desencadeador de outros dons, como, por exemplo, o dom da fortaleza.
4. Fortaleza: Ser
forte diante das dificuldades, enfrentando-as com coragem, sem desanimar é
uma manifestação do dom da fortaleza. Precisamos dele constantemente para
viver. Quem é forte, no sentido de fazer uso do dom da fortaleza, assumi
com alegria os deveres que a vida lhes impõe e ainda encontra tempo para
realizar com maestria seus sonhos e projetos. Quando o dom da fortaleza
está sendo colocado em prática, são vários os sinais que obtemos como
resposta: resistimos com mais facilidade as seduções; enfrentamos com
prudência e coragem os riscos nos nossos empreendimentos, enfim, quando
temos certeza que estamos fazendo a coisa certa, não tememos as
conseqüências, não nos amedrontamos diante de ameaças e perseguições. O dom
da fortaleza é conhecido também como dom da coragem e coragem não é
atributo apenas dos grandes heróis, das pessoas que se destacaram numa
batalha, numa causa, numa missão ou qualquer outro empreendimento. É aquela
força que brota de dentro de nós no cotidiano da vida, resultado de nossa
humildade, e nos ajuda a atravessar incólumes os momentos mais difíceis.
Pessoas fortes, no sentido de ser portadora do dom da fortaleza, não são
simplesmente as que têm a aparência física de forte, força física adquirida
através de treino nas academias, mas as que têm aquela força que vem do seu
interior, permitindo que atravesse as mais difíceis situações sem se
esmorecer ou abalar, ou sem se abalar demasiadamente. Ele é, além do
“motor” do nosso crescimento, o que proporciona o nosso desenvolvimento em
todos os sentidos. Na Bíblia o dom da fortaleza aparece em diversos
momentos e situações e em todos com a função de superação de obstáculos e
de limites, algo que impulsiona a ir além. A fortaleza aparece associada à
capacidade de perseverar, a paciência e a tenacidade. Ele nos dá confiança,
segurança, não nos deixa desistir, haja o que houver. Com ele somos
capacitados a enfrentar duras provas, sempre cientes e conscientes da
possibilidade da vitória.
5. Ciência: É
o dom que nos faz conhecer as coisas criadas nas suas relações com o
Criador. O dom de saber explicar a Palavra de Deus, as doutrinas da Igreja
nela fundamentadas e aplicá-las no cotidiano da vida, fazendo com que o
verbo de Deus se encarne na realidade humana, conferindo-lhe sentido e
significado. Podemos dizer que é o método do processo de santidade. Os
santos foram aqueles que mais souberam fazer uso do dom da ciência. O dom
da ciência nos ensina a despojarmos de muita coisa e viver somente pelas
que são essenciais e eternas. O dom da ciência nos faz ver o sofrimento e a
humilhação de maneira nova e nos faz sair dele mais fortalecidos, mais
semelhantes ao criador, brilhando em nós uma centelha do esplendor divino,
purificada pela dor. O dom da ciência nos ensina a lidar com a dor, com o
sofrimento, com a humilhação de maneira nobre e a vivê-los com dignidade.
Nos ensina a fazer dos limões que a vida nos oferece, saborosas limonadas e
das pedras do caminho, lindos castelos. O dom da ciência nos dá
sensibilidade para compreender a realidades, interpretar os sinais dos
tempos e agir da maneira mais adequada possível. Ter o dom da ciência é
estar ciente daquilo que é bom ou não. É agir com a confiança de se estar
fazendo o bem e o bem é tudo aquilo que promove a vida em todas as suas
dimensões, fazendo com que as pessoas vivam feliz.
6. Piedade: Piedade
é aquele dom que nos faz, a exemplo de Cristo, mansos e humildes de
coração. As pessoas piedosas, ou que vivem o dom da piedade, são aquelas
que se compadecem do sofrimento alheio. Portanto, piedade é o mesmo que
misericórdia e compaixão. Mais que um sentimento ou uma prática externa,
piedade é um modo de ser que nos faz tão humanos que revela o divino que
existe em nós. Piedade é fazer do sofrimento alheio o nosso próprio
sofrimento, é o mesmo que compaixão. O dom da piedade aprimora em nós as virtudes,
como, por exemplo, a virtude da caridade e da justiça.
Elas dependem do dom da piedade. Quem não exercita esse precioso dom,
dificilmente vai praticar tais virtudes. Pelo dom da piedade procuramos
fazer para o outro tudo aquilo que gostaríamos que os outros fizessem a
nós. O dom da piedade faz parte do processo de santificação. Ele pode se
manifestar a qualquer momento, inclusive naqueles em que, aparentemente,
estamos necessitados da piedade ou da compaixão de outros e de Deus. Esse
dom nos faz diferentes, faz-nos gratuitos nas nossas relações, nos ensina a
perdoar, faz-nos pessoas melhores, mais nobres e, sobretudo, mais felizes.
Revoluciona o nosso campo de ralações que ajudam a promover uma sociedade
mais justa e fraterna, não pautadas na vingança, nem no “olho por olho,
dente por dente”, mas na prática da misericórdia e da piedade. Enfim, o dom
da piedade nos coloca em sintonia com Deus. É o dom da intimidade de filhos
com o Pai porque nos orienta de forma divina às relações humanas que temos
com Deus e com o próximo, tornando-as mais profundas e perfeitas. O dom de
piedade não nos incita apenas a cumprirmos com nossos deveres religiosos,
mas leva-os também a experimentar o amor fraterno para com todos os nossos
semelhantes.
7. Temor de Deus: Esse
é o dom que nos ensina a respeitar a Deus no seu mistério profundo,
inatingível a nossa limitada compreensão. Não significa ter medo de Deus,
como muito podem imaginar, mas amá-lo sobre todas as coisas, porém, cientes
de que nunca o amaremos como Ele merece. O temor de Deus nos faz
reconhecê-lo como ser supremo, insondável, ao mesmo tempo acessível e
inacessível. Acessível no sentido de que Ele está sempre do nosso lado,
sempre pronto a socorrer-nos nas nossas reais necessidades, porém
inacessível na compreensão de seus mistérios. Assim, o dom do temor é o dom
da prudência e da humildade. Prudência em lidar com as coisas sagradas,
respeitando-as como extensão dos mistérios divinos, humildade em reconhecer
nossos limites diante da grandeza de Deus. O dom do temor de Deus nos
ensina a não fazer de Deus um mero cumpridor das nossas vontades. Teme
verdadeiramente a Deus aquele que consegue concebê-lo além dos limites da
sua compreensão. Temer a Deus é ter conciência que a nossa inteligência,
por mais aguçada que seja, jamais vai poder desvendar os seus mistérios. O
temor de Deus nos coloca no nosso lugar enquanto criaturas. Seres dotados
de dons e talentos, virtudes capazes de fazer grandes coisas, muito mais do
que imaginamos, porém nada que supere a capacidade do criador.
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AS VIRTUDES
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Virtude é algo que está relacionado à coisa boa. É uma
qualidade que a pessoa possui e que está conformada com o que é considerado
correto, desejável, enfim, bom. Há uma conformidade entre a virtude e o
bem. A virtude não é algo que, necessariamente nascemos com ela, mas pode
ser adquirida ao longo da nossa vida. A virtude é algo passível de se
manifestar em qualquer ser humano e o meio social tem grande influência
nisso, mas não é o único fator. Há também virtudes que são inatas, isto é,
pessoas que já nascem com tendências para as boas ações, mesmo que tenham
vivido a maior parte de sua via em ambientes poucos propícios para as
virtudes. As pessoas virtuosas são aquelas que desenvolvem capacidades que
possibilitam que seus objetivos sejam atingidos, mesmo que para isso tenham
que vencer muitos obstáculos. Como os dons, as virtudes também estão
agrupadas em sete, das quais quatro são virtudes cardeais e três são
virtudes teologais. As virtudes cardeais ou morais são: a prudência, a
justiça, a fortaleza e a temperança. São, portanto, virtudes adquiridas
humanamente. Elas nascem dos atos moralmente bons. São fundamentais para
que a pessoa comungue do amor divino. As demais virtudes, as teologais, que
são a fé, a esperança e a caridade, se agrupam em torne das cardeais. Há
uma estreita relação entre elas, formando um todo. São as virtudes que nos
ajudam ver o mundo e as coisas naquilo que elas têm de humano e divino.
1. Fé: A
fé é uma virtude teologal porque é algo que independe de nós, vem de Deus.
Ninguém escolher ter fé ou não. Ela vem de modo inexplicável e, sem que
percebamos, comanda nossas ações. Como num barco, onde o capitão está no
leme, guiando-o no rumo certo, a pessoa de fé tem tanta confiança de que
quem está no leme de sua vida é Deus, que se entrega totalmente em suas
mãos e deixa que Ele vá conduzindo-a para os rumos que desejar. Isso não
quer dizer que a pessoa de fé não tem vontades ou iniciativas próprias, mas
que sabe conformar sua vida na vontade de Deus. Quem tem fé sabe que a sua
vontade deve ser à vontade de Deus e, assim, se esforça para que haja
concordância entre elas. Fé é a confiança absoluta que depositamos em Deus
sem, necessariamente, fundamentá-la em argumentos racionais, é o mesmo que
crença. É acreditar piamente e direcionar suas ações e buscas em prol
daquilo que se crê. Ela é a fonte e o centro de toda a vida religiosa. A fé
exige empenho, dedicação e, sobretudo, perseverança. Quem tem fé sabe que o
tempo de Deus não é o seu tempo. Viver da fé, e com fé, é não se preocupar
com a quantificação da vida, isto é, com quanto tempo ainda nos resta, mas
com a sua qualificação, procurando viver com qualidade, viver bem. Uma
demonstração de fé é não desistir dos sonhos só porque eles não se
realizaram no tempo desejado. É não desistir diante dos obstáculos, da
aridez das situações, mesmo que elas pareçam intransponíveis. É saber que
nem tudo o que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser
modificado até que seja enfrentado. Fé é perseverar na busca, apesar dos
contratempos. Enfim, a fé é um dado que mobiliza, tira-nos do comodismo, da
apatia e do suposto marasmo da vida. Quem acredita age. Quem tem fé é
perseverante e não desiste de lutar, mesmo que o esperado pareça impossível
aos olhos humanos. A fé nos dá esperança.
2. Esperança: A
esperança é algo fundamental na vida de qualquer ser humano. Quem perde a
esperança, perde o sentido da vida. Esperança é um sentimento de quem vê
como possível à realização daquilo que deseja, ela é a motivadora das
buscas. Semelhante a fé, a esperança é também uma virtude teologal e isso
significa que não é algo simplesmente humano, mas tem a ver com Deus e sua
graça. Desse modo, a esperança, enquanto virtude, nos faz vislumbrar a
eternidade, a vida além da morte, o Reino dos Céus. Falar de esperança é
dizer a importância que o futuro tem na nossa vida. Um futuro de
felicidade, que todos desejamos. A confiança em Deus e na sua promessa de
felicidade é que garantem essa certeza que mobiliza o nosso presente e que
nos faz, como Abraão, esperar contra toda esperança (Rm 4, 18).
3. Caridade: Caridade
é a terceira e última virtude teologal. Ela conduz as pessoas ao amor ao
próximo e a Deus. Caridade é, portanto, sinônimo de amor. Não é por acaso
que muitas traduções da primeira carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 13,
traz a caridade como sinônimo de amor, de doação total. Caridade não
significa apenas partilha, distribuição dos bens. Posso fazer isso e não
estar sendo caridoso no verdadeiro sentido da palavra. Caridade envolve
amor, partilha não somente daquilo que está sobrando na minha casa e na
minha vida, mas partilha do essencial, daquilo que eu também necessito ou
vou necessitar. Doar o que está sobrando é fácil e pode servir apenas para
aliviar a consciência, ou para desocupar espaços, nos livrar daquilo que
não nos serve mais, enfim, para uma série de situações que não configuram
propriamente caridade. Vemos em Mateus (9, 13) que Deus quer misericórdia,
caridade e não sacrifício. Portanto, de nada adianta distribuir nossos bens
aos famintos e entregar o nosso corpo as chamas se não tivermos
misericórdia em nosso coração (1Cor 13, 3). Quais são os sinais que
acompanham quem vive a virtude da caridade? Quem é possuidor da virtude da
caridade é paciente. Sabe esperar o tempo certo e não se irrita por qualquer
motivo. É prestativo, estando sempre pronto para ajudar a todos,
principalmente quem mais necessita. Não é uma pessoa invejosa, mas se
alegrar com o sucesso do outro. Ri com o outro e não do outro. Não é uma
pessoa que vive ostentando riquezas, títulos ou qualquer outro bem deste
mundo, mas sabe ser humilde, mesmo que tenha muitos dons e qualidades.
Sendo rica, não se apega a sua riqueza, sendo pobre, não faz de sua pobreza
um motivo que a inferiorize perante os demais. Tendo posses, cargos ou
qualquer outro bem, não se incha de orgulho. Tem bom senso, sabe discernir
as coisas e situações, não sendo nunca uma pessoa inconveniente. Tem a
palavra e a atitude certa na hora certa. Quem tem a virtude da caridade não
procura seu próprio interesse, mas está sempre pronto a satisfazer as
necessidades do outro. Mesmo diante das dificuldades, dos desafios, das
inúmeras coisas que a entristece, não se irrita, não guarda rancor dos que
o magoam. Sofre com as injustiças e não mede esforços para ver a justiça
acontecer. A caridade não é uma coisa passageira. A pessoa possuidora dessa
virtude sabe que ela o acompanhará para sempre.
4. Prudência: Prudência
é uma virtude cardeal, isto é, uma virtude adquirida pelos nossos esforços.
É a virtude que faz prever as situações e evita as inconveniências e os
perigos. Assim, prudência é o mesmo que cautela, precaução. Quem é prudente
sabe manter-se calmo, pondera as coisas antes de falar ou de agir, é
sensato e tem paciência ao tratar de assuntos delicados e difíceis. A
pessoa prudente é uma pessoa sábia porque prudência e sabedoria andam lado
a lado. A prudência é uma grande aliada da sabedoria.Toda pessoa sábia é
prudente, por isso suas decisões são acertadas. Além disso, as pessoas
prudentes são, geralmente, boas administradoras enquanto que as imprudentes
correm mais risco, erram mais na forma de administrar e, conseqüentemente,
sofrem com mais freqüência, prejuízos. Em muitas situações, a imprudência
pode custar à vida. É o que ocorre no trânsito. O motorista prudente corre menor
risco enquanto o imprudente tem muito mais chance de sofrer um acidente e
até perder a vida. Desse modo, vemos o quanto à prudência é decisiva em
nossa vida. É uma virtude valiosa porque preserva-nos de muitos perigos e
garantem uma vida mais segura. A pessoa prudente age com sagacidade, tendo
discernimento de todos os seus atos. Ser prudente é pensar antes de falar e
de agir. A probabilidade de dizer a palavra certa na hora certa e obter
bons resultados na ação é muito maior quando se pensa no que se vai dizer e
planeja as ações. Ter autodomínio e equilíbrio em tudo que se faz são
características que revelam a prudência. É importante não confundir
prudência com insegurança, timidez ou medo. Prudência é lucidez. É aquela
virtude que indica a regra e a medida certa das coisas. Enfim, quem age com
prudência dificilmente erra, ou erra menos, porque calcula antes de agir. A
pessoa verdadeiramente prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo
quanto diz. A pessoa prudente faz o que pode e sabe o que pode fazer.
5. Justiça: A
justiça, além de uma virtude cardeal, é uma virtude moral. Consiste, em
primeiro lugar, na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o
que lhes é devido, afirma o Catecismo da Igreja (n. 1807). O fruto da
justiça será paz, afirma o profeta Isaías (32, 17). Se não houver justiça,
a paz não é verdadeira. Não é possível viver em paz quando irmãos nossos,
às vezes bem perto de nós, sofrem as conseqüências da injustiça, como o
desemprego, a miséria, a fome e as inúmeras carências (moradia, saúde,
educação, etc.). Justiça, como virtude, é respeitar os direitos de cada um
e estabelecer nas relações humanas a harmonia que promove a equidade em
prol das pessoas e do bem comum. O primeiro passo para saber se somos justo
é ver se temos facilidades para corrigir nossos pensamentos. Nem sempre as
coisas que imaginamos serem corretas, são, de fato, corretas. Equivocar-se
é humano, o que não é justo é querer permanecer com pensamentos
equivocados. Através da conduta para com o próximo se percebe uma pessoa
justa. Ser imparcial no julgamento das coisas, sem buscar favorecer
ninguém, a não ser a justiça, é característica do justo. Se queremos a
justiça de Deus, devemos ser justos para com nossos irmãos. Essa é uma
concepção teológica de justiça, em que as relações se pautam em valores
transcendentes, valores que estão além do horizonte de nossa visão, mas que
determinam relações aqui e agora. A justiça é um dos fundamentos da vida
social. Não é possível viver com dignidade numa sociedade onde não haja
justiça. A justiça, para ser completa, há que vir aliada de uma outra
virtude, a caridade. Justiça e caridade são fundamentos morais de qualquer
vida social. São virtudes que regem diretamente as relações humanas. Elas
são essenciais para a solução dos problemas sociais.
6. Fortaleza: A
virtude da fortaleza nos dá segurança nas dificuldades, firmeza e
constância na procura do bem, afirma o Catecismo da Igreja (n. 1808). Quem
exercita essa virtude em sua vida, consegue atravessar os momentos difíceis
porque, apesar da situação de vulnerabilidade que as dificuldades nos
colocam, encontramos dentro de nós uma força inexplicável que não nos deixa
abater pela dificuldade. Ser firme é uma estratégia que muito ajuda nestas
situações e é essa firmeza que não nos deixa esmorecer na busca do bem.
Sabemos que o bem não é algo fácil de se atingir, há muitos obstáculos,
muitas pessoas e situações que tentam nos desviar do caminho do bem. Nessas
ocasiões, ser firme e constante é fundamental. O bem não é algo que se busque
apenas em alguns momentos de nossa vida. Tem que ser a meta principal. Por
isso, todo empenho é necessário. A virtude da fortaleza nos torna capazes
de vencer o medo, inclusive o medo da morte, afirma o Catecismo (n. 1808),
além de ajudar a suportar as provações e as perseguições, dando-nos coragem
para agir com desenvoltura, mesmo que as ciladas sejam tentadoras. A
virtude da fortaleza é a virtude que nos dispõe a aceitar até a renúncia e
o sacrifício da própria vida para defender uma causa justa, diz o Catecismo
da Igreja (n. 1808). Quem é possuidor desta virtude sabe fazer renúncias,
desde aquelas que aparecem no cotidiano de nossa vida, tida como menores,
até as grandes renúncias, como a renúncia da própria vida em nome de uma
causa maior. A virtude da fortaleza nos capacita a fazer todo tipo de
renúncias, desde que o fim seja um bem supremo. A fortaleza, como virtude,
embora seja algo humano, vem de Deus. É ele que nos encoraja, nos torna
fortes mesmo quando somos fracos.
7. Temperança: Temperança
é a qualidade ou virtude de quem é moderado, comedido. É a virtude moral
que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens
criados, afirma o Catecismo da Igreja (n. 1809). É algo sintonizado com o
intelecto, com a razão, é o que nos dá a medida certa nas nossas ações. É a
virtude que nos faz distintos dos animais, fazendo com que administremos
bem os nossos sentimentos, nossas vontades, colocando cada coisa no seu
devido lugar. Para entender melhor como funciona a temperança, basta entender
como funciona o seu oposto, o instinto. Administramos essas necessidades de
modo que elas sejam vividas de modo equilibrado, temperado, isto é, que
tenhamos sobriedade, austeridade, manifestando de modo atenuado os desejos
inerentes a nossa espécie. Daí a palavra temperança. Ela nos faz viver de
modo harmonioso conosco mesmo e com os outros, possibilitando um convívio
social pacífico e equilibrado. É a virtude que coloca nossa vida no prumo,
dando a proporção certa para cada coisa. Pessoas que fazem uso adequado
desta virtude são pessoas comedidas, discretas, que sabem dosar as coisas,
deixando a vida no ponto certo, isto, temperada. Ela sabe a
proporcionalidade dos sentimentos e os vive de modo adequado. Quem não faz
uso dessa virtude, leva uma vida desenfreada, sem controle, tornado-se,
portanto, pessoas angustiadas e infelizes. Boa parte dos sofrimentos
humanos deriva da ausência dessa virtude. A função da virtude da temperança
é proporcionar esta constância. Vemos, assim, a estreita relação que existe
entre a temperança e as demais virtudes. Ela condiciona indiretamente todas
as outras virtudes. Embora todas as outras sejam indispensáveis para que a
pessoa possa ser moderada (ou sóbria), a temperança influi diretamente na
vivência das demais. Não se pode ser verdadeiramente prudente, nem
autenticamente justo, nem realmente forte, quando não se possui a virtude
da temperança. O grande desafio, porém, é praticar a todas com equilíbrio,
não esquecendo ou negligenciando nenhuma delas, pois todas são necessárias
para o bem viver. Nisto consiste o papel da temperança. Uma depende da
outra e quem nos dá essa visão de conjunto é a temperança. Enfim, a virtude
da temperança vem completar o conjunto das quatro virtudes cardeais, pondo
limites no nosso agir.
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