quarta-feira, 11 de março de 2009

Quaresma

Quaresma: quarenta dias de preparação.

Jesus ressuscitou “no primeiro dia da semana” (Mt 28,1). As primeiras comunidades começaram a reunir-se todas as semanas para festejar a vitória de Jesus sobre a morte. Com o tempo os cristãos sentiram a necessidade de solenizar de maneira muito especial o acontecimento que mudou os rumos da história. Decidiram fazer, uma vez por ano, uma grande festa, com cuidadosa preparação, para celebrar intensamente a Páscoa de Jesus. Como toda festa que se preze merece uma boa e prolongada preparação, não podia ser diferente a preparação da maior festa de todas. Surge então a Quaresma que são os quarenta dias que antecedem a Páscoa.

Memória do Batismo.
Antigamente a quaresma era o período durante o qual, através da penitência e da provação, os catecúmenos se preparavam para receber o batismo na noite da Páscoa.
Para os batizados o tempo quaresmal é sempre uma nova oportunidade de recolocar a vida nos trilhos da salvação, ou seja, um tempo privilegiado de conversão, de combate espiritual, de jejum e abstinência visando à renovação de nossa aliança batismal (renovação das promessas batismais feita no Sábado Santo).

Tempo de renovação.
Desde os tempos mais antigos da era cristã a quaresma foi considerada como um tempo de renovação espiritual e de fortalecimento interior para o testemunho do evangelho. Isso por meio de três práticas muito significativas: a oração, o jejum e a caridade.
A oração como experiência de fé e gratuidade para pedir a Deus as forças e a graça da conversão para colocarmos o evangelho em prática e permanecermos no bom caminho.
O jejum e a caridade como expressão do seguimento do Mestre que exige o abandono de nós mesmos e a doação aos irmãos. O jejum concentra-se na partilha dos bens: “Nós vos prescrevemos o jejum lembrando-vos não só a abstinência, mas também as obras de misericórdia. Desse modo, o que tiverdes poupado nos gastos normais, se transforme em alimento para os pobres” (São Leão Magno).
Privando-se do alimento terreno, nas múltiplas formas que se lhe apresentam, aprenderemos a saborear, acima de tudo, o pão da Palavra de Deus e da Eucaristia, e melhor sentiremos o dever de dividirmos nossos bens com os outros. Porém, a quaresma não é um tempo de luto ou tristeza, mas de intensa expectativa e inteligente concentração para viver prazerosa e intensamente as alegrias da Ressurreição do Senhor.
Unidos a Jesus, que toma o caminho do deserto para aí ser tentado, entramos com toda a Igreja na grande provação da quaresma, com a intenção de optar sempre pela vontade do Pai, em todas as circunstâncias. Tudo isso para fazermos da quaresma uma verdadeira participação no mistério pascal de Cristo. Padecemos com Cristo para participar de sua glória e sentir, na vida, a alegria de sua ressurreição. (Cf. Rm 8,17).

Liturgia.
O tempo litúrgico da quaresma se estende da Quarta-feira de cinzas até o Domingo de ramos quando começa a Semana Santa. Nas missas dominicais deste tempo não se canta o hino de louvor (glória) e também o aleluia, pois são reservados para a grande solenidade da Vigília Pascal. A cor litúrgica é o roxo, pois por ela melhor expressamos nossa dimensão de penitencia e de disposição à conversão. Para o 4º domingo (Laetare) é permitido o uso da cor rosa ou róseo.

Campanha da Fraternidade.
Celebrar a quaresma implica também assumirmos juntos, como povo de Deus num autêntico mutirão, a busca da paz, da concórdia e, sobretudo da Fraternidade, autênticos dons de Deus, mas frutos também da nossa co-responsabilidade social. A dimensão comunitária da quaresma é, no Brasil, vivenciada e assumida pela Campanha da Fraternidade. Ela começa na Quarta-feira de cinzas, porém não termina junto com a quaresma, mas deve ser meditada o ano inteiro.
Focalizando uma situação especifica da realidade social, a CF nos ajuda a viver concretamente a experiência da Páscoa de Jesus na vida do povo. Ela mantém e fortalece o espírito quaresmal. O Concílio Vaticano II recomenda que “a penitencia quaresmal não seja só interna e individual, mas, sobretudo externa e social” (SC 110).

Celebrar a Eucaristia no tempo da quaresma significa:
- Percorrer, juntamente com Cristo, o itinerário da provação que pertence à Igreja e a cada ser humano;
- Assumir mais decididamente a obediência filial ao Pai e o dom de si aos irmãos, que constituem o sacrifício espiritual;
- Assim, renovando os compromissos do nosso batismo na noite pascal, poderemos “fazer a passagem” para a vida nova de Jesus ressuscitado, para a glória do Pai, na unidade do Espírito.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Sugestoes Liturgicas para o mes de Março de 2009

2º Domingo da Quaresma
07-08 Março 2009
Leituras: Gênesis 22; Salmo 115; Romanos 8;
Marcos 9, 2-10 (Transfiguração).

A salvação é oferecida a todos.

Ao nosso redor há tantas pessoas que se afastaram da nossa comunidade. Há crianças morando nas ruas, jovens entregues às drogas, é incontável os que passam fome e os que não tem casa onde morar. O que essa situação tem a ver com a nossa preparação para a Páscoa e com o evangelho da Transfiguração de Jesus? Essa realidade nos mostra que precisamos transfigurar / mudar a sociedade em que vivemos por meio de nossas ações fraternas, solidárias e proféticas.

Sugestões para a Celebração:

- Onde for possível a comunidade se reúne fora da Igreja ao redor de uma grande cruz. Quem preside faz o sinal da cruz e no Ato penitencial convida a todos a fazer sua caminhada quaresmal (procissão rumo a Igreja).
- No ofertório (ou após o Evangelho) pode entrar cartazes recordando as realidades que hoje precisam ser transfiguradas, transformadas, especialmente em relação ao tema da CF (Campanha da Fraternidade). pode ser recortes de jornal e revistas, desenhos, ou objetos.
- Fazer uma prece especial ou uma homenagem no final da celebração para as mulheres no seu Dia Internacional.
- Rezar a oração da CF.

3º Domingo da Quaresma
14-15 Março 2009
Leituras: Êxodo 20; Salmo 18; I Coríntios 1;
João 2, 13-25 (Expulsão dos Mercadores no Templo).

A nova casa de Deus é a comunidade dos crentes.

Jesus expulsa os vendilhões do Templo para mostrar que sua casa, a assembléia reunida, não é lugar de exploração e nem de alienação. Somos chamados hoje a uma verdadeira purificação nos colocando diante do Senhor que nos pede um culto perfeito, nascido na sinceridade do coração, da solidariedade e da justiça. Esse é o novo e verdadeiro culto que Jesus quer que façamos!

Sugestões para a Celebração:

- No ofertório levar o cartaz da CF oferecendo a Deus a participação da comunidade na Campanha.
- Motivar os grupos que fazem encontros da CF (CF em família, Via Sacra, etc.) para que convidem mais pessoas para participar desses encontros e da vida da comunidade. Essa é a forma mais concreta de sermos discípulos-missionários.
- Lembrar que dia 19 de março é dia de São José, esposo de Maria.

4º Domingo da Quaresma
21-22 Março 2009
Leituras: II Crônicas 36; Salmo 136; Efésios 2;
João 3, 14-21. (Jesus fala da Serpente levantada no deserto).

Deus é rico em misericórdia.

Jesus erguido numa cruz atrai e salva a todos. Ele é a prova do quanto Deus amou o mundo. Quanto a nós é necessário fazer uma opção clara e decidida por nosso Senhor Jesus Cristo. Essa opção deve nos tornar capazes de cativar os que andam nas trevas da injustiça, da pobreza e da violência.

Sugestões para a Celebração:

- A cor litúrgica de hoje é o rosa (ou róseo). Pode-se preparar o espaço da celebração com sinais de alegria, como as flores. Os instrumentos musicais podem dar um toque de festividade a toda a celebração.
- Fazer entrada solene da cruz (com a imagem de Cristo nela), acompanhada de velas e de algum símbolo ligado à CF. e coloca-la em lugar de destaque.
- Durante a proclamação do evangelho erguer a cruz diante da comunidade.
- Lembrar que 25 de março é solenidade da anunciação do Senhor.

5º Domingo da Quaresma
28-29 Março 2009
Leituras: Jeremias 31; Salmo 50; Hebreus 5;
João 12,7-9. (Querem ver Jesus).

Em Cristo está a nova aliança.

Aproximando-nos do final da Quaresma somos convidados a ver Jesus, o que isso significa? Por que ver Jesus? Vê-lo é compreender sua atitude e desvendar seu projeto. Jesus mesmo explica esse projeto fazendo uma meditação sobre a “hora”. Essa “hora” é o final da sua vida terrestre, que se aproxima. Ou seja, a “hora” é o momento no qual o amor gratuito de Deus é expresso na cruz.

Sugestões para a Celebração:

- Trazer na procissão de entrada (ou no ofertório) uma vasilha com terra e algumas sementes. (lembrando a comparação feita por Jesus no evangelho).
- Na oração da assembléia lembrar os acontecimentos e as ações da comunidade que são sinais de vida e ressurreição.
- Entregar os envelopes para a coleta da CF. e alem disso motivar gestos concretos sobre a CF na nossa comunidade.

Páscoa: Passagem para uma vida nova!

A Páscoa Judaica
Para entendermos a Páscoa cristã, vamos, sinteticamente, buscar sua origem na festa judaica de mesmo nome. O ritual da Páscoa judaica é apresentado no livro do Êxodo (Ex 12, 1-28). A palavra “Páscoa” significa “passagem”. O anjo exterminador “passou” diante das casas dos hebreus, isto é, não entrou pelas portas pintadas com o sangue do cordeiro. Houve “passagem” também pelo Mar vermelho e pelo deserto, da terra da escravidão do Egito para a terra que Deus tinha prometido. Páscoa significa, portanto, já no Antigo Testamento, passagem da vida de escravos para uma vida em liberdade.
A Páscoa judaica é uma das mais importantes festas do calendário judaico, ela é celebrada por oito dias e comemorada com um rito todo particular. Anualmente, conforme a ordem recebida por Moisés (Ex 12, 21-28) os hebreus celebravam a Páscoa que começava no princípio do décimo quinto dia de Nisã, com a refeição sacrificial, quando um cordeiro ou um cabrito inteiro era assado e comido pelos membros duma mesma família com ervas amargas e pães ázimos (sem fermento); nessa ocasião o chefe da família contava a história da redenção do Egito.
Os sacrifícios significavam expiação e dedicação; as ervas amargas faziam lembrar da amargura da servidão egípcia; os pães ázimos simbolizavam a pureza (Lev 2, 11).

A Páscoa de Cristo.
A festa da Páscoa passou a ser uma festa cristã após a última ceia de Jesus com os apóstolos, na Quinta-feira santa (Mt 26, 17-20), essa última ceia é considerada como a refeição ritual que acompanha a festividade da Páscoa judaica. Ao celebrar a Páscoa Jesus institui a NOVA PÁSCOA, a Páscoa da libertação total do mal, do pecado e da morte numa aliança de amor de Deus com a humanidade.
Cristo é o Cordeiro de Deus (Jo 1, 29), pois se sacrificou uma vez por todas em prol da salvação de toda a humanidade. Hoje, ao celebrarmos a Páscoa, não ofertamos o sacrifício de um cordeiro e nem nos alimentamos com pães sem fermento, porque Cristo já se deu em sacrifício uma vez por todas (I Cor 5, 7; Ef 5, 2), como cordeiro pascal para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime. Essa á Nova Aliança de Deus realizada pelo sangue de seu Filho (Mc 14, 24), aliança, agora não só com um povo, mas com todos os povos.


A Páscoa para a Igreja.
Para nós cristãos a Páscoa simboliza a morte vicária (substitutiva) de Cristo, ou seja, Jesus morreu em nosso lugar para nossa redenção. Sendo a festa magna da Igreja Católica, pela Páscoa celebramos a ressurreição de Jesus, ou seja, sua vitória sobre a morte e a desesperança (Rm 6, 9). É a festa da nova vida, a vida em Cristo ressuscitado. Por Cristo somos participantes dessa nova vida (Rm 6, 5).
A Páscoa é o tempo do Aleluia que ressoando constantemente quer exprimir a alegria da nova criação, ou seja, o dia em que todas as coisas se tornaram novas. A celebração pascal é uma celebração antecipada dos bens do céu, “do tempo da alegria que virá em seguida, do tempo do repouso, da felicidade e da vida eterna” (Sto. Agostinho).
Na primeira carta aos coríntios Paulo estabelece a conexão entre pregação, fé e ressurreição: “E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé. E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados”. (1Cor 15, 14. 17). Assim sendo, a missão da Igreja é anunciar a fé no Jesus ressuscitado.

Porque a data da Páscoa não é a mesma todo ano?
A data cristã da Páscoa foi fixada durante o Concílio de Nicéia, em 325 d.C., como sendo o primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre após o dia do Equinócio, que é quando o sol passa por sobre a linha da Equador, data que ocorre entre os dias 22 de Março e 25 de Abril.
A Quaresma se inicia na Quarta-feira de cinzas, 46 dias antes da Páscoa e termina no Domingo de Ramos, quando se inicia a Semana Santa. Os cinquenta dias depois da Páscoa são de certo modo uma festa ininterrupta abrangendo sete domingos, sendo o sétimo o Domingo da Ascenção do Senhor. O tempo Pascal se encerra no quinquagésimo dia com o Domingo de Pentecostes.

Nossa Páscoa.
Desde os primeiros tempos a Igreja celebra a Páscoa como comemoração da passagem de Cristo desta vida terrena para a vida da glória, através da sua morte e ressureição. Para nós a Páscoa é o nosso definitivo êxodo do mundo do pecado e da escravidão para uma vida de justiça e de amor, isto é, de libertação da escravidão do mal para a vida de filhos de Deus. Portanto, nesta Páscoa somos chamados a viver uma vida nova em Cristo Jesus. Essa renovação devemos buscar continuamente até realizarmos um dia a nossa passagem definitiva desta vida para a outra vida, a eterna.

Seminarista Marcio Canteli.